No dia 15 de julho, Dia da Democracia, justa e precisamente no Dia da Democracia, um contra-almirante reformado, Antonio Nigro, descobriu que se tornou alvo de um Processo Administrativo Disciplinar aberto pela Marinha do Brasil contra ele por dizer, numa entrevista a Miriam Leitão, que houve partidarização das Forças Armadas e que “os militares sabem que não entraram nas escolas navais, ou nas academias militares, para serem fiscais de eleições ou exercerem qualquer outra atividade policial”.
O caso foi exposto nesta terça-feira, 20, na coluna de Miriam Leitão no jornal O Globo.
Referindo-se aos casos impunes do general Eduardo Pazuello, que estava na ativa quando subiu em um palanque de Jair Bolsonaro, e do coronel Ricardo Sant’ana, que foi escalado para “fiscalizar” as urnas eletrônicas enquanto disseminava mentiras sobre elas na internet, Miriam ressalta que as “Forças Armadas aceitam indisciplina de ativos se forem bolsonaristas, mas atingem inativo por ter dado opinião contrária ao atual governo”
O Regimento Disciplinar Militar prevê que o militar inativo pode “opinar livremente sobre qualquer assunto político e externar pensamento e conceito ideológico, filosófico ou relativo à matéria de interesse público”.
O Processo Administrativo Disciplinar contra Antonio Nigro é, portanto, ilegal e persecutório, mais é pior do que isso: é crime de abuso de autoridade cometido em nome do bolsonarismo militar.
“Se queriam um flagrante de partidarização das Forças Armadas – diz Miriam Leitão -, esse caso é exemplar”.

A entrevista a Miriam Leitão que rendeu ao contra-almirante Antonio Nigro um Processo Administrativo Disciplinar aconteceu em julho.
Em julho, Come Ananás chamou atenção para algo que passou praticamente em brancas nuvens na mídia corporativa: o almirante de esquadra Almir Garnier Santos, comandante da Marinha, aderiu à campanha bolsogolpista de suspeições contra as urnas eletrônicas, chegando a renovar esta profissão de fé, ou melhor, de dúvida, em plena Câmara dos Deputados.