Mais duas ou três palavras sobre a reunião de Eduardo Bolsonaro com os donos da DarkMatter

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O repórter Paulo Motoryn noticiou na última quarta-feira, 1º de junho, no Brasil de Fato, que Eduardo Bolsonaro se reuniu no dia 26 de maio com representantes do Edge Group, conglomerado estatal do setor de Defesa dos Emirados Árabes Unidos, na sede do grupo, em Abu Dhabi.

O Edge Group é dono da DarkMatter, empresa de “segurança cibernética” que ganhou (má) fama internacional por servir de fachada para um amplo projeto de espionagem de jornalistas, políticos e ativistas – e até governos – incômodos para ditaduras como as da Arábia Saudita e dos próprios Emirados Árabes Unidos – o projeto Raven.

O encontro de Eduardo Bolsonaro com a cúpula do Edge Group aconteceu no âmbito de uma missão a países árabes coordenada pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE). A missão começou no último 19 de maio, vai até o próximo 6 de junho e é chefiada pelo almirante Flávio Rocha, titular da SAE.

Nesta sexta-feira, 3, o Estadão publicou uma matéria sobre a trip da comitiva por ditaduras e sobre os encontros da delegação com ditadores e torturadores, e vai direto ao ponto:

“A quatro meses das eleições e sem dar ampla publicidade às agendas e aos objetivos da viagem, o deputado Eduardo Bolsonaro realiza um tour pelo Oriente Médio recheado de encontros com ditadores bilionários, sob o pretexto de acompanhar o secretário especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República”. 

A conexão bolsonarismo-Edge Group

Em janeiro, uma reportagem de Jamil Chade e Lucas Valença no UOL revelou que um integrante do chamado “gabinete do ódio” do Palácio do Planalto teve tratativas com um representante da DarkMatter no dia 14 de novembro do ano passado, na feira aeroespacial Dubai AirShow, durante uma viagem oficial de Jair Bolsonaro.

Em três artigos recentes, Come Ananás esmiuçou a conexão bolsonarismo-Edge Group. São estes, pela ordem:

Sobre a presença de Eduardo Bolsonaro na sede do Edge Group, em Abu Dhabi, na semana passada, Como Ananás chama atenção para três pontos.

Primeiro: Faisal Al Bannai

No outro lado da mesa da reunião do dia 26 em Abu Dhabi, bem em frente a Eduardo Bolsonaro, estava Faisal Al Bannai, que é ninguém menos que o fundador da DarkMatter. Quando a ditadura emiradense criou o Edge Group e absorveu a DarkMatter, em 2019, Al Bannai virou CEO do novo conglomerado. Recentemente, Al Bannai foi alçado a presidente do conselho de administração do Edge Group.

Segundo: o sigilo e o documento

O Ministério da Defesa decretou sigilo das atas e listas de presença das reuniões do grupo de trabalho que a pasta mantém com o Edge Group, mas, no fim de março, os mesmos Jamil Chade e Lucas Valença reportaram que um documento do ministério, ao qual tiveram acesso, mostra que a Defesa vem tratando com o Edge Group, além de questões de armamentos, de sistemas de defesa cibernética.

Porém, nenhuma das sete subsidiárias do Edge Group que o site do conglomerado informou terem participado do encontro do dia 26 de maio (Halcon, Adasi, Al Tariq, Caracal, Lahab, Nimr, e Al Jasoor) lida com sistemas de defesa cibernética.

O Edge Group tem duas subsidiárias de “guerra eletrônica e tecnologias cibernéticas”: a Signal4L e a Beacon Red.

Segundo o site Intelligence Online, referência internacional no setor, o Edge Group parece ter “descontinuado” a desgastada, famigerada e visada DarkMatter, substituindo-a pela Beacon Red, classificada pelo site como “subsidiária de guerra híbrida da empresa de defesa dos Emirados Árabes”.

De fato, Come Ananás identificou vários funcionários da Beacon Red que são oriundos da DarkMatter.

Terceiro: na viagem, um membro da CTE/TSE

O terceiro ponto é a curiosidade de que a missão da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República a países árabes conta com um empresário que é membro da tumultuada Comissão de Transparência das Eleições (CTE) do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A comissão tem sido usada pelos militares como posto avançado no seio do TSE para questionamentos à credibilidade das urnas eletrônicas, via general Heber Garcia Portella, outro membro da CTE.

Em seu site, o Edge Group deu os nomes de várias empresas cujos CEOs integraram a delegação brasileira que esteve na sede do conglomerado no último dia 26, numa visita “diplomática, militar e comercial”. Entre elas está a Kryptus Segurança da Informação S.A., companhia de segurança cibernética baseada em Campinas. A Kryptus é credenciada pelo Ministério da Defesa como uma Empresa Estratégica de Defesa (EED).

O fundador e CEO da Kryptus é Roberto Alves Gallo Filho. Além de CEO da Kryptus, Roberto Gallo é presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (ABIMDE). Além de CEO da Kryptus e presidente da ABIMDE, Gallo é membro da Comissão de Transparência Eleitoral do TSE. O currículo de Roberto Gallo no Linkedin informa ainda que ele participou do desenvolvimento da arquitetura de segurança de hardware das urnas eletrônicas brasileiras.

Quando divulgou a composição da CTE, em setembro do ano passado, o TSE apresentou Roberto Alves Gallo Filho apenas como “doutor pela Unicamp”.

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