Foto: Alan Santos/PR.

O ex-presidente dos EUA Donald Trump voltou a tumultuar uma votação, desta vez interna, do seu próprio partido, o Republicano, que nesta quarta-feira, 18, realizou prévias em cinco estados para escolha de candidatos que disputarão as eleições americanas intercalares de novembro.

Numa demonstração amarga de que o trumpismo está bem vivo, os candidatos republicanos que contestam os resultados das eleições de 2020 nos EUA se saíram melhor, no cômputo geral, nas disputas pelas candidaturas do partido a deputado, senador e governador em Idaho, Kentucky, Carolina do Norte, Pensilvânia e Oregon.

Na Carolina do Norte, por exemplo, o candidato ao Senado pelo Partido Republicano em novembro será o deputado Ted Buddy, que no ano passado votou no Congresso dos EUA contra a certificação do resultado das eleições de 2020. Com endosso de Trump, Buddy derrotou nas previas um ex-governador do estado por uma diferença de mais de 30 pontos percentuais.

Na Pensilvânia, estado que esteve no centro das alegações trumpistas de fraude eleitoral em 2020, decidiu-se nesta terça que o candidato a governador pelo Partido Republicano será o extremista Doug Mastriano, que financiou o transporte de apoiadores de Trump para o comício de 6 de janeiro de 2021 feito em frente à Casa Branca e que descambou para a invasão do Capitólio.

Mastriano, que é coronel da reserva do Exército dos EUA, venceu as previas com uma margem de 24 pontos percentuais, ou mais de 300 mil votos, para o segundo colocado. Pelo visto, não é só no Brasil que notórios sabotadores da Democracia não apenas passam impunes, mas seguem disputando eleições.

“Como governador, Mastriano teria a oportunidade não apenas de falar, mas de agir. O homem de 58 anos endossado por Trump, que ganhou a indicação republicana para governador nesta terça-feira, ganharia influência significativa sobre a administração do campo de batalha das eleições no estado se vencer em novembro, preocupando especialistas que já temem um colapso democrático em torno da eleição presidencial de 2024”, disse o Washington Post.

O governador tem a autoridade de nomear o secretário do estado, que atua como chefe de eleições e precisa aprovar os resultados.

Após a vitória de Mastriano nas prévias, o conhecido negacionista eleitoral Ivan Raiklin, outro coronel da reserva do Exército americano, postou um vídeo com o agora candidato oficial do Partido Republicano ao governo da Pensilvânia dizendo o seguinte, numa referência ao peso do estado no colégio eleitoral dos EUA, com o polegar em riste: “20 votos eleitorais”.

“Ah, sim”, respondeu Mastriano.

Às vésperas das prévias, Doug Mastriano participou como convidado do podcast de Steve Bannon. A Bannon, Mastriano disse assim sobre o apoio público tardio dado a ele por Trump na reta final da campanha: “o presidente Trump é leal àqueles que defendem a verdade e estão tentando lutar pela integridade do voto em nosso estado”.

‘Here we go again’

Ainda na Pensilvânia, todos os três pré-candidatos ao Senado mais votados nas prévias do Partido Republicano se recusam a reconhecer a vitória de Joe Biden nas eleições de 2020. Juntos, Mehmet Oz, Dave McCormick e Kathy Barnnete receberam nesta quarta o apoio de mais de um milhão de eleitores republicanos do estado.

Nesta quarta, quando 95% dos votos tinham sido apurados na Pensilvânia, faltando contar apenas os votos enviados pelo correio, a diferença entre o primeiro colocado, Mehmet Oz, e o segundo, Dave McCormick, era de apenas 0,1 ponto percentual (pouco mais de 200 votos). A lei do estado prevê recontagem de votos se a diferença, no final da contagem, for de 0,5 ponto ou menos.

Antes, porém, da apuração dos votos enviados pelo correio, Trump voltou à carga da fraude eleitoral, e novamente na Pensilvânia.

“Lá vamos nós outra vez”, postou o ex-presidente na rede social que mandou fazer para si próprio, a Truth Social, referindo-se aos milhares de votos pendentes de contagem, para depois exortar o pré-candidato ao Senado que ele apoiou no estado, Oz, a declarar vitória com 0,1% de vantagem mesmo, antes do fim da apuração: “isso tornaria muito mais difícil para eles trapacearem” com as cédulas enviadas pelo correio.

Não é de hoje que está claro que há método para bagunçar o coreto da Democracia. O voto pelo correio é para Donald Trump e seus coronéis aposentados o que a urna eletrônica é para Jair Bolsonaro e seus generais da reserva e da ativa, e o que a água barrenta do rio é para o lobo que tenta encontrar um bom motivo para devorar o cordeiro: apenas um pretexto.

Esopo feelings

“Você está sujando a água, assim não consigo beber”, diz o lobo ao cordeiro que ele queria devorar, na célebre fábula de Esopo.

“Estou bebendo com a ponta dos lábios – responde Luis Roberto Barroso, ou melhor, o cordeiro. Além disso, como eu poderia sujar sua água de lama, se estou na parte mais baixa do rio?”.

Buscando outro pretexto, o lobo volta à carga: “No ano passado você insultou meu pai”.

“Eu nem tinha nascido”, argumenta o cordeiro, no que o lobo chuta o pau da barraca, estica a corda, pisa fora das quatro linhas, atravessa o barrento Rubicão: “você tem resposta para tudo, não é? Mas eu vou devorá-lo mesmo assim”.

Impossível não pensar no TSE respondendo diligentemente as 88 pegadinhas eleitorais encaminhadas pela milicada ao tribunal.

Na moral da história de uma caprichada edição brasileira das Fábulas do Esopo, consta assim sobre a fábula do lobo e do cordeiro, sobre ciosas declarações em favor da Democracia, notas de repúdio ao golpismo e intermináveis processos por fake news:

“Tentar evitar o mal daquele que já decidiu cometê-lo? Perda de tempo”.

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