O general Marco Antônio Freire Gomes, futuro ex-comandante do Exército Brasileiro, não admite prestar continência ao futuro chefe supremo das Forças Armadas, democraticamente eleito. Não admite, nem uma vez sequer. Por isso, e junto com os chefes da Armada e da Força Aérea, pirutilar-se-á antes da posse de Lula.
In the other hand, o general Freire Gomes não aparentou qualquer constrangimento quando, no último sábado, 26, diante de Jair Bolsonaro, traficou um conhecido bordão fascista e bordão eleitoral de Bolsonaro – “Deus, pátria e família” – em seu discurso de saudação a quase 400 formandos da Academia Militar das Agulhas Negras, aspirantes a oficiais do Exército:
“Presidente Bolsonaro, estou seguro de que sua dignidade, seu culto à família, seu amor ao Brasil e sua inabalável fé em Deus serão referência na pavimentação do caminho que os jovens à sua frente trilharão a partir de hoje”.
Naquele dia, Freire Gomes fanfarronou assim diante da turma Bicentenário da Independência, na Aman: “desde a epopeia de Guararapes somos um exército invicto”.
Segure o riso, porque de alguma maneira o general tem toda razão.
Desde a batalha de sua fundação, em 1648, contra os holandeses, na então capitania de Pernambuco, jamais aconteceu nem a mais pálida, a mais pífia responsabilização do Exército Brasileiro, da sua cadeia de comando, pelas crises que causou; pelos golpes que deu ou que tentou; pela guerra permanente que sustenta – seja a psicológica, seja com derramamento de sangue – contra as classes populares e setores democráticos do país; pelos crimes de lesa-humanidade que cometeu.
Tudo, sempre, em nome da “pacificação”, contra o “revanchismo”, até porque nunca deixou de pairar sobre as “forças desarmadas” (Fachin, Edson) a ameaça do fuzil. Nunca deixaram. Nunca nos deixaram em paz. Deixá-los em paz, porém, é o que fazem historicamente as instituições civis brasileiras a cada vez que o Brasil vislumbra a chance de pôr fim a esta dialética criminosa, cruenta, lesa-pátria, que é a do cíclico intrometimento marcial.
Como agora. Agora, surge como o provável nomeado por Lula para o Ministério da Defesa um produto da Arena e de várias gerações de senhores de engenho e usineiros da capitania de Pernambuco; de “perfil conciliador”; ganhador de uma medalha de Pacificador do Comando do Exército e comendador da Ordem do Mérito dos… Guararapes, glória maior dos cidadãos pernambucanos.
Em 1986, um jovem José Múcio Monteiro e Miguel Arraes digladiaram-se pelo governo de Pernambuco, com José Múcio apelando, na reta final da campanha, para o mais rasteiro e delirante anticomunismo. Naqueles idos, costurou-se, contra Arraes, uma inusitada aliança entre o candidato do PFL e Francisco Julião, fundador das Ligas Camponesas, sob a bandeira da reforma agrária. Foi o chamado Pacto da Galileia.
A reforma agrária de José Múcio Monteiro começaria com ele próprio doando 10% dos seus 470 hectares de terras a lavradores. Mas a doação seria feita apenas se o pefelista vencesse a eleição. Além de flagrante compra de votos, trata-se de uma bela maneira de lidar com a questão agrária, não? Mui consequente e responsável…
Arraes venceu. O Pacto da Galileia naufragou. Julião passou a ser chamado por línguas mais afiadas da esquerda de “Pato da Galileia”.

Agora, José Múcio ‘Milicos’ Monteiro deve ser o cara da, digamos, Paz de Guararapes, com militares golpistas, praticamente amotinados, praticamente impondo seu nome – o de ‘Milicos’ Monteiro – a Luis Inácio Lula da Silva como alternativa sonsa, acumpliciada, à nomeação de algum general.
Pelo visto, o novo governo vai aceitar que os militares não aceitem totalmente o comando civil, ou que se arvorem o direito de reconhecer ou deixar de reconhecer a autoridade deste ou aquele presidente da República com base em seus bitolamentos castrenses, ódios de classe e outros mais mundanos intere$$e$.
Pelo visto, o Exército Brasileiro seguirá invicto em matéria de ser chamado à lei e à responsabilidade. Mesmo depois de tudo. Mesmo depois de pilhas de mortos, inclusive.
Bela maneira de lidar com a questão militar…
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