Bento Albuquerque (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil).

Não era noite de quinta para sexta-feira, mas sim dia claro de uma terça-feira de nosso senhor; nem Bento Albuquerque e seu assessor percorreram sete freguesias naquele 26 de outubro de 2021, mas apenas quatro aeroportos – em Riad, Doha, São Paulo e finalmente Brasília. Porém, a julgar pelo que o almirante disse à Polícia Federal nesta outra terça, 14, ele o primeiro-tenente Marcos Soeiro encantaram, sim, como mulas sem cabeça no dia em que desembarcaram em Guarulhos pesados de pedras preciosas trazidas ilegalmente da Arábia Saudita.

Melhor dizendo: Bento Albuquerque contou à PF a incrível história das mulas sem um cabeça do esquema.

Em seu depoimento, o almirante Albuquerque se enrolou todo em nós náuticos ao tentar, como se fosse possível, dissociar Jair Bolsonaro do caso das “joias das arábias”. À PF, Albuquerque afirmou que cruzou meio mundo transportando presentes que não sabia o que eram e sem saber exatamente para quem. Segundo ele, os pacotes foram entregues à sua comitiva “sem direcionamento”.

Bento Albuquerque havia dito aos ficais da receita em Guarulhos, e posteriormente a veículos de imprensa, que as joias apreendidas tinham Michelle Bolsonaro como destinatária. Seriam para Jair Bolsonaro as joias do segundo estojo, aquele que o almirante conseguiu esconder da alfândega. Agora, à polícia, Albuquerque diz que tudo não passou de “suposição”.

A mídia dá conta de que, no depoimento, Bento Albuquerque disse que a campainha do quarto do hotel tocou e sua equipe recebeu dois pacotes, os pacotes com os presentes, com lacres de cera marcados com o brasão da família real da Arábia Saudita. Com essa, o almirante não apenas demonstrou conhecimento de heráldica, mas só faltou mesmo dizer que sequer tem certeza do remetente.

Durasse mais cinco minutos o depoimento de Bento Albuquerque, calhava de o almirante dizer à polícia que a própria existência das joias é mera “suposição”…

Em resumo, o almirante disse à PF nesta terça que não sabe praticamente nada sobre um episódio de vaivém ilegal de pedras preciosas que ele mesmo protagonizou. 

Ex-diretor do Programa de Desenvolvimento de Submarinos da Marinha, talvez o almirante Bento Albuquerque possa contribuir, então, com a investigação de um outro caso de tráfico internacional: a dos narcossubmarinos encontrados à deriva nos últimos dias nas costas da Colômbia e da Espanha.

Seria, digamos, folclórico: o fabuloso caso da mula sem cabeça que desvendou o mistério dos submarinos fantasmas.

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