Em setembro de 2019, o coletivo Intervozes fez as contas de quantos editoriais os três maiores jornais do Brasil haviam publicado no primeiro semestre daquele ano para martelar a necessidade de mais uma reforma da previdência no país: 135 editoriais no Estadão, 71 na Folha, 61 no Globo.
Naquela altura, as classes dominantes tinham acabado de emplacar a sua sétima contrarreforma do regime amplo de Previdência Social conquistado pelo povo brasileiro e consignado na Constituição de 1988 – cada machadada, menos seguridade, menos amplitude.
A primeira contrarreforma da Previdência no Brasil foi feita em 1993, governo Itamar Franco, com a Constituição Cidadã ainda fresquinha. No governo FHC, mais uma. Nos governos Lula 1 e 2, duas, mesmo número de reformas feitas no mandato e meio de Dilma Rousseff.
Numa ironia tétrica, desde Itamar o único governo que não mexeu na Previdência Social, porque não conseguiu, foi o do consórcio golpista de Michel Temer. Em 2018, no dia em que o governo Temer completou dois anos, uma agência de “checagem de fatos” fez um intrigante esforço de fact-checking das “propostas” do famigerado “Ponte Para o Futuro”, ou seja, do andamento de “reformas” que sequer tinham sido submetidas às urnas. Entre elas, a da Previdência – mais uma.
Ela, a sétima, a mais recente – e mais draconiana -, seria aprovada pelo Congresso em outubro de 2019, no primeiro ano do governo Bolsonaro e na sequencia daqueles 267 editoriais pró-sétima publicados pelos jornalões. Quando o texto-base da contrarreforma número 7 passou na Câmara dos Deputados, por 379 votos a 131, o então presidente da Câmara, Rodrigo Maia, chorou de emoção.
Em outubro, a foto que ilustrou a capa do Globo no dia seguinte à aprovação do texto no Senado mostrava o senador Flavio Bolsonaro e o então ministro da Economia, Paulo Guedes, tirando uma selfie no plenário da Casa, abaixo do chapéu “vitória histórica” e da manchete “Senado aprova em 2º turno a mais ampla reforma da Previdência do país”.
Aquela mesma edição do Globo, porém, deixava a nu que, a cada aprovação de uma reforma da Previdência Social no Brasil, as classes possuidoras já estão pensando na próxima. Naquela edição do Globo, dizia o editorialista: “reforma é avanço importante e precisa ser entendida como a primeira de algumas que virão”.
Nesta segunda-feira, 28, a manchete do Globo diz que “a expansão acelerada de benefícios pressiona por nova reforma da Previdência”, tal e qual “um nó na navegação global ameaça o Natal”.

