“O PL das Fake News pode aumentar a confusão sobre o que é verdade ou mentira na internet”. É o que dizia o link, alerta que a Google estacionou na página inicial do seu buscador no Brasil e como primeiro resultado para pesquisas como “pl fake news” e “pl 2630”. O link foi removido na tarde desta terça-feira, 2, após o governo se movimentar contra o escancarado abuso de poder econômico para influenciar o debate público. A url de destino, no Blog do Google Brasil, continua lá.


Um dos sites brasileiros mais envolvidos com espalhamento de notícias falsas nos últimos anos, o Terra Brasil Notícias, é recheado de anúncios da Google, ou melhor, de anunciantes que usam a Google como intermediária para espalhar anúncios na internet.
O Terra Brasil Notícias, cujo slogan é “Deus acima de tudo e de todos”, foi um dos sites brasileiros citados em um relatório publicado em novembro do ano passado pela organização de jornalismo investigativo ProPublica, com sede em Nova York, sobre como a Google, por meio do seus sistemas de anúncios, financia a desinformação em todo mundo. O relatório tem um capítulo dedicado ao Brasil.
“A ProPublica descobriu – diz o relatório – que 46% dos mais de 250 sites [brasileiros] sinalizados por desinformação ganham dinheiro com a Google. Quando essa lista foi comprimida para os 30 sites mais compartilhados em grupos de WhatsApp e Telegram, a ProPublica descobriu que 80% deles ganham dinheiro com anúncios colocados pela Google”.
Outro notório site bolsonarista associado à disseminação de notícias falsas é o Jornal da Cidade Online. O site tem um aplicativo disponível para baixar no Google Play. Para baixar e para assinar, via Google, por R$ 9,99 (Plano Essencial) ou R$ 99,99 (Plano Patrocinador).
Para assinar o aplicativo Jornal da Cidade Online o patriota precisa aceitar os termos de serviço do… Google Play.

Quem publica aplicativo e cobra assinatura no Google Play tem que pagar à Google uma taxa de serviço que costuma ser de 15%. Quanto aos anúncios, como os que a Google põe no Terra Brasil Notícias, em geral a mais big das techs repassa ao dono do site uma comissão de 68% do valor pago pelo anunciante, e embolsa o resto.
“É uma forma de ganhar dinheiro para quem está sem oportunidade”, disse no ano passado à ProPublica a diretora do Netlab da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Marie Santini, sobre os editores de sites de fake news que ganham dinheiro com os sistemas de anúncios da Google.
E completou:
“Mas quem está ganhando dinheiro em grande escala? Claro, é a plataforma, a Google”.
Juntos contra o PL 2630, a Google e sites bolsonaristas fazem há tempos uma bela de uma “rachadona” dos ganhos com fake news, a custa da Democracia e a despeito dos “recursos contra desinformação e fake news” alardeados pela Google. Trata-se de uma máquina de desinformação em massa azeitada pelos monopólios dos anúncios e das buscas na internet.
Este é ponto. O resto é lengalenga da Google de que o PL das Fake News “pode piorar sua web”; o resto é desespero com um fio de chance que se abre, com o PL, para o fechamento de fábricas de mamadeira de piroca.
