O presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, achou uma boa ideia citar o assim autointitulado “chefe da Casa Imperial do Brasil”, Dom Bertrand de Orleans e Bragança, em seu discurso feito no Congresso Nacional nesta quinta-feira, 8, por conta dos 200 anos da independência política do Brasil:

“Na lição de Dom Bertrand de Orleans e Bragança, a História é absolutamente fundamental para um povo, porque quem não sabe de onde vem, não sabe para onde vai”, disse Fux.

Muito bonito.

Dom Bertrand de Orleans e Bragança, porém, é uma das lideranças da organização católica ultraconservadora Instituto Plínio Correa de Oliveira, que participou das manifestações pró-Bolsonaro na Avenida Paulista, em São Paulo, e em Copacabana, no Rio de Janeiro, neste 7 de setembro.

Também neste 7 de setembro, o Instituto Plínio Correa de Oliveira organizou “terços públicos contra o comunismo” em diversas outras cidades do país.

Além de “chefe da Casa Imperial do Brasil”, liderança do Instituto Plínio Correa de Oliveira e organizador de “terços públicos contra o comunismo”, Dom Bertrand de Orleans e Bragança, aos 84 anos de idade, apareceu nos últimos dias como garoto-propaganda da Taurus Armas no lançamento da coleção de revólveres “Taurus Independência”.

A coleção da Taurus consiste em três modelos de revólveres estilizados com a bandeira nacional e um trecho do hino da independência: “já raiou a liberdade no horizonte do Brasil”. A coleção foi lançada às 9:00h deste 7 de setembro, simultaneamente ao início da parada milico-eleitoreira de Jair Bolsonaro em Brasília.

Uma das armas da coleção é uma “herança do século 19 remodelada para comemorar os 200 anos da liberdade do nosso país”.

Diz Dom Bertrand de Orleans e Bragança no vídeo promocional da coleção de revólveres da Taurus Armas:

“Neste bicentenário da nossa independência, devemos recordar um documento fundamental da nossa história, que foi o regulamento dado ao primeiro governador-geral da nossa pátria, Tomé de Souza, que foi nomeado pelo meu ancestral Dom João III, cognominado ‘O Piedoso’. Neste documento estava garantido um direito fundamental que todo homem tem: a legítima defesa”.

O documento ao qual Dom Bertrand se refere é o Regimento de 1548. Sobre o que sua majestade chama de garantia do direito à legítima defesa presente no regimento, a professora de História Liana Maria Reis, da PUC-MG e doutora em História Social pela USP, esclarece que:

“O Regimento de 1548, de D. João III, composto de normas e instruções a Tomé de Souza, versava sobre segurança e defesa das fortalezas e povoações e determinava que moradores brancos e proprietários de casas, terras, águas e embarcações teriam que adquirir armas brancas e de fogo nos armazéns reais”.

Aos brancos proprietários, portanto, “O Piedoso” não exatamente garantiu o direito à legítima defesa, como diz sua alteza imperial e real na publicidade, mas impôs a obrigação da defesa da colônia de ultramar. Visitando o Regimento de 1548, contata-se ainda que o documento vedava aos “mouros, “infiéis” e “gentios” o acesso a qualquer tipo de arma, branca ou de fogo.

A História é absolutamente fundamental para um povo, e quem não sabe de onde vem, Dom Bertrand, Luiz Fux, não sabe para onde vai.

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