Em um incrível lance do destino, já que o Ministério da Defesa anda afirmando que um “malware pode estar no chip” das urnas eletrônicas e o bolsonarismo anda nos últimos dias com um notório hacker a tiracolo, o Exército Brasileiro marcou um exercício de guerra cibernética para o mesmo dia do início da campanha eleitoral.
Nesta terça-feira, 16, início da campanha e da presidência de Alexandre de Moraes no TSE – e com uma equipe de 18 “técnicos” das Forças Armadas revolvendo os códigos-fonte das urnas na sede do tribunal -, começa também a quarta edição do Exercício Guardião Cibernético, realizado sob o guarda-chuva do Ministério da Defesa e considerado o maior exercício de guerra cibernética do Hemisfério Sul.
As atividades acontecem em Brasília e em São Paulo até a próxima sexta-feira, 19, data para a qual a Defesa solicitou ao TSE a prorrogação dos trabalhos da Equipe das Forças Armadas de Fiscalização do Sistema Eletrônico de Votação (EFASEV). O Guardião Cibernético é conduzido pelo Comando de Defesa Cibernética (ComDCiber), organização militar do Exército.
O ComDCiber é chefiado pelo general Heber Garcia Portella, o representante das Forças Armadas indicado pela Defesa para a Comissão de Transparência Eleitoral (CTE) do TSE. A CTE tem sido usada pelos militares como posto avançado no seio do TSE para questionamentos à credibilidade das urnas eletrônicas.
A primeira edição do Guardião Cibernético aconteceu em 2018 e o exercício foi realizado também em 2019 e 2021. A edição de 2022 teve como atividade preliminar uma competição chamada Mandabyte, de ataques hackers simulados do tipo Capture The Flag.
Realizado no último 20 de julho, o Mandabyte consistiu em desafios de níveis básico, intermediário e avançado nas áreas de redes, programação, exploração web, exploit (exploração de vulnerabilidades de hardwares e softwares), criptografia e forense computacional.
Kryptus
Uma das 11 empresas ou organizações certificadas pelo ComDCiber para dar apoio ao Guardião Cibernético 2022 é a multinacional brasileira Kryptus Segurança da Informação, que é credenciada pelo Ministério da Defesa como Empresa Estratégica de Defesa e que já havia participado do exercício em 2021.
O CEO da Kryptus, Roberto Alves Gallo Filho, também é membro da Comissão de Transparência Eleitoral do TSE. O currículo de Roberto Gallo no Linkedin informa que ele participou do desenvolvimento da arquitetura de segurança de hardware das urnas eletrônicas brasileiras.
A Kryptus é a fabricante de componentes de segurança do sistema eletrônico brasileiro de votação, os “HSMs (Hardware Secure Modules) certificados ICP-Br”, conforme referido em um ofício enviado em fevereiro pelo TSE ao general Heber Portella – o longo e conhecido ofício com o qual o tribunal respondeu a dezenas de questionamentos insidiosos dos militares sobre as urnas eletrônicas.

Em 2021, a Kryptus venceu licitação para fornecimento de tecnologias e segurança criptográfica para a Rede Operacional de Defesa, espinha dorsal do Sistema Militar de Comando e Controle.
Outro contrato da Kryptus com o Ministério da Defesa, este mais recente e por inexigibilidade de licitação, prevê fornecimento de “serviço de garantia e suporte técnico com evolução tecnológica dos appliances ASI-HSM AHX5 kNET Cryptographic Module (HSM kNET)” para o Centro Integrado de Telemática do Exército.
Sagres
Uma entidade chamada “Sagres” também aparece entre as 11 empresas ou organizações certificadas pelo ComDCiber para participar do Exercício Guardião Cibernético 2022.
Come Ananás solicitou ao Ministério da Defesa, ainda sem resposta, confirmação de que se trata do Instituto Sagres, um dos responsáveis – ao lado dos institutos Federalista e Villas Bôas – pelo plano de poder de longo prazo traçado nos círculos militares – o “Projeto de Nação”, que tem como um dos tópicos a “Defesa Cibernética do Brasil”.
O “Projeto de Nação” foi lançado em maio, em Brasília, com presenças do vice-presidente Hamilton Mourão e do Secretário-Geral do Ministério da Defesa, Sergio José Pereira.
O Instituto Sagres tem como figura de proa o general da reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva. No último 9 de julho, o general Paulo Sergio Nogueira, entre um outro ataques que tem feito às urnas eletrônicas, repercutiu por um aplicativo de mensagens um artigo do general Rocha Paiva intitulado “Lula presidente: ruína moral da nação e das instituições”.