Exército Brasileiro, há 50 anos matando ianomâmis (e negando o genocídio)

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Provocando a fome ianomâmi, o Partido Militar e sua cavalgadura, Jair Bolsonaro, “apenas” tentaram terminar o serviço. É que o Exército de Caxias começou a matar indígenas em Roraima em 1973, quando o gerenciamento militar do velho Estado brasileiro, no turno de Emílio Garrastazu Médici, passou a boiada da rodovia Perimetral Norte (BR-210) em território indígena ainda não contatado pela Funai, dizimando, estima-se, 80% da população indígena do sudeste das terras ianomâmis.

É como dizia um bordão da Ditadura lançado no governo Médici:

No início da década de 1970, um certo coronel do Exército de nome Carlos Alberto, mas não Brilhante Ustra, e sim Menna Barreto, era o Comandante da Fronteira de Roraima. Em 1995, a Biblioteca do Exército editou o primeiro e único livro escrito pelo coronel Carlos Alberto Menna Barreto: “A farsa ianomâmi”.

Não é difícil adivinhar: no livro, o coronel e seus editores, se é que vocês me entendem, negam a própria existência dos indígenas ianomâmis.

Mas eles foram além: logo no primeiro capítulo, logo no primeiro parágrafo do livro, diz assim Carlos Alberto Menna Barreto, a quem Jair Bolsonaro talvez se refira, gozando, como “o pavor dos ianomâmis”:

“Comandante da Fronteira de Roraima nos idos de 1969, 1970 e 1971, vi com surpresa as sucessivas denúncias de um pretenso genocídio dos ianomâmis, que renomados jornais do Brasil e do exterior publicaram a partir de 1973. No período em que lá estive, empenhado em reconhecimentos, experiências e estudos necessários ao planejamento operacional, não ouvi jamais qualquer menção a uma tribo com esse nome”.

“Não entendia, também, como poderia ter surgido tanta gente assim em um lugar pouco antes despovoado, ou quase isso”, escreveu ainda o coronel.

Este é o vergonhoso Exército Brasileiro, há 50 anos negando, nos dois sentidos, a existência dos ianomâmis – e, claro, negando o genocídio indígena subjacente ao grito “selva!”.

‘Encanto pelo ianomâmis e aversão pelos brasileiros’

Menna Barreto morreu no mesmo ano da edição do seu livro pelo Exército. Como Ustra, Menna Barreto vive.

O capítulo de abertura do livro “A farsa ianomâmi” parece, aliás, um prefácio do bolsonarismo militar que desgovernou o Brasil durante quatro anos: estão lá palavras virulentas contra o que hoje generais chamam de “conspiração globalista” e contra a ONU. Estão lá, postas em tintas pelo Ustra de Roraima, frases como “jornalistas ignorantes do Rio e de São Paulo cheios de encanto pelo ianomâmis e aversão pelos brasileiros”.

Não falta sequer, no primeiro capítulo do livro “A farsa ianomâmi”, ataques à demarcação de terras indígenas em Roraima em nome do “direito natural de ir e vir” de “rudes garimpeiros” em seus “passos no rumo do ouro”…

O primeiro capítulo do livro verde-oliva “A farsa ianomâmi” leva o título “A traição oficial”, o que nos remete a uma célebre charge de Henfil:

Comentários

4 respostas

  1. Muito interessante o tema, mas o que fizeram os ex-presid Lula da Silva e Dilma Rousseff em seus governos para reverter, minimizar a situação? Congelaram o exército e os garimpeiros? Eles cuidaram dos indígenas ianomâmis assim como cuidaram da Petrobras e da população carente do país…. A hipocrisia ainda impera nos meios de comunicação… Lamentável!

  2. Avatar de Marcelo Souto
    Marcelo Souto

    Tá querendo passar pano no extermínio de povos indígenas executado pelos milicos?

  3. Avatar de Amarildo Ferreira Júnior
    Amarildo Ferreira Júnior

    E hoje, Menna Barreto nomeia uma pequena rua de quase 30 metros de comprimento no bairro Senador Hélio Campos, em Boa Vista. Mas, o que esperar de uma cidade com um bairro chamado 31 de março e que se organiza como uma grande vila militar?

    1. No Rio de Janeiro, também existe uma rua com esse nome execrável!

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