Eremildo é um idiota e acredita nos delírios ruralistas do seu criador, Elio Gaspari. Especialmente na aplicação da teoria das maçãs podres ao agronegócio. O agronegócio, que, segundo Gaspari, seria o caminho para fazer do Brasil e a terra do leite e do mel para todos, desde que se veja livre de uma dúzia de estragados.
Dado a cunhar termos pretensamente espirituosos – “FFHH”, “Nosso Guia” -, Elio Gaspari costuma chamar de “agrotrogloditas” aqueles que considera os frutos podres de um setor supostamente bom em sua essência – a agropecuária expansiva e o latifúndio monocultor-exportador unidos ao capital industrial para invadir terras indígenas e devastar florestas, como mostrou cabalmente o relatório “Os invasores”, do site De Olho Nos Ruralistas.
Neste domingo, 2, em sua coluna na Folha e n’O Globo, Elio Gaspari dá a dimensão do seu próprio desvario ao insinuar que foram minoria entre os ruralistas aqueles do boi e da soja que se mancomunaram com o projeto genocida-fascista-golpista de Jair Bolsonaro: “Felizmente Lula parou de chamar uma parte dos empresários do agronegócio de ‘fascista’, constrangendo aqueles que o apoiaram contra a facção troglodita que seguia Bolsonaro”.
Gaspari fundamenta sua coluna deste domingo na contraposição entre a imagem de um pátio da Volkswagen apinhado de carros encalhados e a informação do Censo de que “a região Centro-Oeste, onde está boa parte do agronegócio, teve um crescimento populacional de 1,2% ao ano, o dobro da média nacional”.
E sacramenta: “um novo Brasil olha para o antigo”. E cobra que “é preciso entender o agronegócio”. E, descartando a atualidade de Jorge Amado, Graciliano Ramos e João Cabral de Mello Neto para a compreensão do Brasil atual, Elio Gaspari afirma que a grande propriedade rural, grande chaga original do Brasil, grande vetor da tragédia ambiental brasileira, não é nada disso e é cômputo da meritocracia:
“A encarnação do poderoso senhor do agronegócio nada tem a ver com os clássicos proprietários rurais da literatura. Ele é um colono do Sul do Brasil, cujo pai não lhe deixou um tostão. Subiu para Goiás, Mato Grosso e chegou a Roraima. Ralou como o Severino de João Cabral”.
Aqui, até o idiota enrubesceu.
Gaspari e Gasparian
Com o pátio engarrafado da Volks, Gaspari poderia cotejar, por exemplo, outras três imagens da última semana, em vez do dado do Censo.
A primeira, as conexões do terrorista George Washington com um coletivo de ricos pecuaristas do sul do Pará. A segunda, a de um expoente do agronegócio e da bancada ruralista, o deputado Evair de Mello, exaltando a imagem de Emílio Anos de Chumbo Médici em plena CPI do 8/1. A terceira, o Padre Kelmon, escudeiro de Roberto Jefferson em Levy Gasparian, presidente do “Foro do Brasil”, dizendo umas palavras no lançamento, em plena Câmara dos Deputados, deste contraponto fascista ao Foro de São Paulo:
“Eu quero agradecer especialmente ao agronegócio”.