É notório que Donald Trump e Jair Bolsonaro têm mais, muito mais afinidades que diferenças. Umas das diferenças entre os ex-presidentes dos EUA e do Brasil é que só um deles, pelo menos até onde se sabe, é traficante internacional de pedras preciosas.
Em 2017, durante uma visita oficial a Riad, Trump ganhou de presente da família real saudita um colar de ouro 18 quilates ornamentado com esmeraldas e rubis. Trump, porém, em vez de tentar traficar o colar malocado numa escultura de cavalo, com a evasiva na manga de que era mimo para Melania, informou-o e entregou-o ao National Archives and Records Administration (NARA).

E pensar que em 2016 a Lava Jato tentou prender Lula porque Lula teria roubado um Cristo que teria sido esculpido por Aleijadinho e que seria patrimônio da União. O Cristo não era de Aleijadinho, nem era da União, nem Lula o roubou: o Cristo tinha sido presente de um amigo que nunca tinha governado país algum.
Mas a história do tráfico internacional de diamantes envolvendo o “Trump dos trópicos” e um almirante da Marinha brasileira pode ser ainda pior do que até agora foi levantado, e muito bem levantado, pela imprensa brasileira.
‘Tá joia?’
Em 2018, um ex-assessor de Barack Obama, Ben Rhodes, mostrou em um livro de memórias como é de hábito da família real saudita presentear com joias altos funcionários de governos estrangeiros que visitam o país, às vezes todos os membros de uma delegação, e não mandar por eles brincos e pulseiras para primeiras-damas.
Aconteceu com Rhodes quando ele liderou uma comitiva estadunidense que viajou para Riad em 2009. Na ocasião, a delegação foi presenteada com relógios masculinos e um conjunto de joias com diamantes, incluindo brincos, um anel e uma pulseira. Algo muito parecido, se não idêntico, ao que veio de Riad com Bento Albuquerque a título de “presente para Michelle”.
Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, Rhodes contou que, de volta aos EUA, “todos nós as entregamos [as joias] ao escritório de protocolo do Estado que lida com presentes [o NARA]. Você tem a opção de ficar os presentes, mas, dado o custo – não me lembro quanto era, mas eram dezenas de milhares de dólares, acredito –, ninguém ficou com eles, que eu me lembre”.
O ministro da Justiça, Flavio Dino, já anunciou que o caso de tráfico internacional de pedras preciosas envolvendo um ex-presidente da República será objeto de investigação da Polícia Federal.
Ela, a PF, poderá dizer se Jair Bolsonaro, ao tomar conhecimento de que a delegação de Bento Albuquerque fora presenteada não exatamente com um colarzinho de nióbio, se Jair Bolsonaro não teria determinado algo do tipo: “maloca essa porra aí. É meu, tá ok?”.
Ou melhor: “tá joia?”.