Em uma nova cepa de cartel, subvariante do modelo PPP de privatização, ou só por uma coincidência mesmo, pelo menos oito empresas concessionárias de serviços públicos estão ou estiveram até recentemente pleiteando renegociação de seus contratos com o governo do Rio de Janeiro, da CCR Barcas à RIOgaleão, da Light à Supervia, via chantagens mil, como ameaças de deixar o Rio sem transporte aquaviário, sob caos aeroportuário, às escuras e sem trem.
Em um despertar empresarial coletivo, sincrônico e tardio para a realidade do Rio de Janeiro, alegam, as concessionárias e seus porta-vozes na imprensa, que a corrupção e a violência criaram no Rio um “ambiente hostil para os negócios” – como se os negócios, sobretudo os big business, não vigorassem na maioria das vezes precisamente à base da corrupção e dos vários tipos de violência.
E de “ambiente hostil” estas concessionárias, de fato, entendem muito bem, vide os passageiros da Supervia sendo atendidos à base do chicote na Central do Brasil ou meninos pretos sendo perseguidos por seguranças idem da CRR nas estações das Barcas na Praça XV, ali, no principal ponto de desembarque de africanos escravizados no Brasil, via concessionários outros, até a construção do Cais do Valongo, no século XIX.
Diante de todo este estrondoso sucesso do modelo PPP-concessões para a infraestrutura do Rio, e justamente em meio à colheita das consequências do modelo bet-“deu green” para estruturar o futebol brasileiro, o governo Claudio Castro acaba de lançar, via Loteria do Estado do Rio Janeiro (Loterj), edital para a concessão à iniciativa privada do direito de exploração, “no âmbito territorial do Estado do Rio de Janeiro”, “em meio virtual”, de “Apostas Esportivas de Quota Fixa, relativas a eventos reais de temática esportiva”.
Avança, portanto, no corrupto e violento estado do Rio de Janeiro, como na violenta e corrupta semicolônia Brasil, o paraíso dos sites de apostas. Mais tarde, em outro despertar coletivo, “descobrirão” tardiamente, concedente e concessionários, que no paraíso bet sempre haverá quem não resista a comer o fruto proibido. É como diria Flavio Dino: “é bíblico”.
Será quando novamente aqueles que mais entendem de “ambiente hostil” irão pleitear junto ao poder público alguma revisão contratual, dizendo-se, justamente quem plantou a árvore do conhecimento do bem e do mal, os maiores prejudicados…