Nascido em Pindamonhangaba, no interior de São Paulo, mas criado em Sobral, no interior do Ceará, foi lá, em Sobral, com uma carreata, que Ciro Ferreira Gomes encerrou na última sexta-feira, 30, a campanha na qual sem querer, querendo, serviu de linha auxiliar do bolsonarismo.
Três dias após os seus 3% nas urnas – e os 43% de Jair Bolsonaro -, um adolescente de 15 anos baleou três colegas de turma do primeiro ano do ensino médio de uma das seis escolas municipais de Sobral do Ceará que levam o nome dos Ferreira Gomes – a Escola Estadual Professora Carmosina Ferreira Gomes, no Bairro Sumaré. Duas das vítimas foram baleadas na cabeça. Uma delas está em estado grave no hospital, intubada.
Segundo a imprensa, a arma da tragédia pertence a um CAC, a “categoria” de colecionadores de espingardas, atiradores esportivos e caçadores de javali – “categoria” multiplicada e multiplicadamente armada por Jair Bolsonaro sob um mote escancaradamente político, o de que “um povo armado jamais será escravizado”.
Este é o deputado federal eleito, bolsonarista, armamentista, mais votado no Ceará:
“Era pra ser no alvo vermelho”, mas, fora dos clubes de tiro, a ameaça muitas vezes é daltônica. Vide Sobral.
Uma semana antes da eleição, o UOL contou que “uma criança de 3 anos atirou na cabeça do irmão gêmeo após encontrar a arma do pai, que havia acabado de retirar a pistola de dentro do cofre na casa da família, em Macapá. O caso aconteceu no início da noite de ontem. Os pais das crianças afirmaram que o homem é colecionador de armas e estava recolhendo o material para ir até um clube de tiro, na capital do Amapá”.
Pelo menos 23 candidatos à Câmara dos Deputados e ao Senado apoiados pelo Movimento Pró-Armas, maior movimento armamentista do Brasil, foram eleitos no último domingo, 2. O fundador e presidente do pró-armas, o advogado Marcos Pollon, que é próximo à família Bolsonaro, foi o candidato a deputado federal mais votado no Mato Grosso do Sul.
Nasceu no último domingo, portanto, a “bancada dos CACs”.
A mídia brasileira não tardou, após domingo, em noticiar um dos efeitos esperados da derrota – em parte reversível, em parte nem tanto – da República e da Democracia: o Supremo, diante da demonstração de força do bolsonarismo nas urnas, “deve dar um passo atrás”.
Na questão dos decretos armamentistas de Bolsonaro, inclusive e certamente.
Em breve, numa pracinha perto de você, a charge de André Dahmer publicada no dia seguinte à eleição:

Presidente do PDT de Ciro Gomes, Carlos Luppi deu apoio firme, claro e devidamente justificado a Lula no segundo turno. Simone Tebet fez o mesmo, na tarde desta quarta-feira, 5, diante da ameaça real à Democracia representada por Jair Bolsonaro – e citando, inclusive, o armamentismo em massa como parte deste perigo.
A quem escreve o coronel?
Já Ciro Gomes, ao declarar “apoio” sem mencionar nominalmente a quem, achou uma boa ideia tentar dinamitar um dos pilares da campanha de Lula, da campanha da Democracia, ao dizer que não vê risco democrático no embate do segundo turno.
Na pior das hipóteses, Ciro segue, de forma inacreditável, dizendo nas entrelinhas a eleitores titubeantes que Bolsonaro não é bem assim um Baphomet. Na melhor, não fala a mais ninguém.
E, afora a carreata melancólica de Sobral, ninguém assistiu ao enterro de sua última quimera. Somente a mágoa – esta pantera – foi tua companheira inseparável.