Em sua coluna deste domingo, 11, na Folha de S.Paulo, Janio de Freitas ressalta que os números do último Datafolha atestam a impotência eleitoral de Jair Bolsonaro, que segue viva a possibilidade de Lula vencer a eleições no primeiro turno e que “nem por isso, no entanto, o jogo eleitoral está em vésperas seguras dos seus momentos culminantes”.
E Janio de Freitas arremata assim seu mais recente artigo na Folha:
“Entende-se que Bolsonaro já tenha lançado seu novo bordão: ‘em eleição limpa, Lula não ganha’. Ao que parece, também a essa ideia o bolsonarismo militar adere, vendo-se a infantaria de coronéis que o Ministério da Defesa quer em ‘fiscalização’ das operações eleitorais. Ali onde não faltam condições para pretextos”.
Guarde esta frase: “ali onde não faltam condições para pretextos”.
Nesta segunda-feira, 12, a manchete da Folha é: “Militares farão apuração paralela em 385 urnas”.

A medida, “inédita na história democrática brasileira”, lembra o jornal, consistirá na Defesa escalando 400 militares que vão participar da operação de Garantia da Votação e da Apuração (GVA), legítima e corriqueira, para, em ação extralegal, tirar fotos do QR Code dos boletins de urna pelo país afora e enviar as fotos para o Comando de Defesa Cibernética do Exército (ComDCiber), em Brasília, que fará um trabalho de contagem dos votos paralelo ao do TSE.
Diz a Folha:
Militares com conhecimento do assunto disseram à Folha que, a princípio, a conferência será feita com 385 boletins de urna —amostragem que, pelas contas dos técnicos, garantiria 95% de confiabilidade.
O resultado dos boletins de cada urna será conferido com os dados enviados pelos TREs para o TSE.
O presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, fechou um acordo com os militares em reunião no dia 31 de agosto para liberar às entidades fiscalizadoras os arquivos brutos da totalização enviados pelos tribunais regionais.
Com a concessão de Moraes, os militares terão acesso em tempo real aos dados enviados para a totalização, em vez de ter de coletar as informações na base de dados do TSE disponibilizada na internet.
Para evitar a demora e fazer o trabalho em tempo real, militares que estarão a serviço em operações de garantia de votação e apuração devem ser escalados para tirar as fotos dos boletins de urna e enviar para o Comando de Defesa Cibernética.
A expectativa de militares ouvidos pela Folha é que na mesma noite em que o resultado for proclamado já haja também uma conclusão da análise das Forças Armadas.
A participação dos militares na fiscalização do processo eleitoral tem sido usada pelo presidente Jair Bolsonaro para disseminar desconfiança nas urnas eletrônicas e contestar o resultado do pleito.
Em abril, referindo-se a uma das “sugestões” feitas pelos militares ao TSE, Jair Bolsonaro reivindicou que no dia das eleições seja feita uma “ramificação um pouquinho à direita”, a partir do “duto que alimenta a sala secreta” do TSE, “para que tenhamos um computador também das Forças Armadas para contar os votos no Brasil”.
Em outra frente, o Ministério da Defesa arrancou do TSE a concessão a outra das suas “sugestões”, por mais que os técnicos do TSE a tivessem considerado “inviável” e “impossível em várias frentes”: a participação de eleitores reais, liberando as urnas eletrônicas com biometria, no teste de integridade dos dispositivos, que é feito no dia das eleições.
Na última terça-feira, 6, disse Bolsonaro em entrevista à Jovem Pan:
“O último contato com o ministro da Defesa, junto com o ministro Alexandre de Moraes, o que me foi reportado é que com as sugestões das Forças Armadas, caso acolhidas, se reduz a próximo de zero a possibilidade de fraude. Próximo de zero não é zero. O que nós queremos não são eleições limpas?”.
“Próximo de zero não é zero”, ali onde não faltam condições para pretextos.
