Depois de tudo, tudo, tudo que o Brasil viveu – ou melhor, morreu -, o jornal O Globo insiste em não dar às coisas que infelicitam e arrebentam este país os nomes que elas merecem, dizendo em editorial publicado nesta terça-feira, 19, que “é um abuso acusar Bolsonaro de genocídio“.

Os familiares de quem morreu informam que é o contrário:

Sobre o golpe de 2016 contra Dilma Rousseff, o oligopólio da mídia corporativa que opera no Brasil, encabeçado pelas Organizações Globo, fartou-se de tentar explicar à massa que o golpe não foi golpe porque “impeachment está previsto na Constituição”.

“Impeachment está previsto na Constituição”, este grande sofisma com que tudo o que era mais sólido para esclarecer os cidadãos – da vendeta de Eduardo Cunha ao “grande acordo nacional” com um vice golpista, com o Supremo, com tudo – simplesmente desmanchava-se no ar, ou melhor, no noticiário de TV, papel jornal e internet.

Na mesma linhagem, a escalada fascista no Brasil até hoje é chamada de “onda conservadora”.

Jurídico, político

Diante da enxurrada de evidências de golpe, em vez dos mais pálidos indícios de crime de responsabilidade, dizia-se, à época do golpe, e a título de legitimar a conspiração golpista, que o impeachment é um “instrumento jurídico, mas político também”.

Agora, quando Renan Calheiros propõe indiciar o genocida por crime de genocídio, com toda, legítima e necessária carga política que carrega esta consignação no relatório da CPI da Pandemia, o editorialista d’O Globo diz que não pode, que “é um abuso”, “está errado”, porque não caberia “na definição” e para não “banalizar o mais hediondo dos crimes”.

Curioso. É o mesmo jornal que fez campanha para a banalização no Brasil do termo “crimes hediondos”.

Genocida? Não. Trapalhão

Nesta terça, nas emissoras do grupo, fala-se em “gestão desastrada da pandemia”. A diferença de “desastrada” para “desastrosa” é, assim, um genocídio: ainda morrem 500 pessoas por dia no Brasil porque Jair Bolsonaro, genocida, sabotou enquanto pôde a vacinação contra a covid-19 no país, retardando-a; porque Jair Bolsonaro sabotou enquanto pôde e sabotará enquanto puder, material e simbolicamente, qualquer esforço para salvar vidas.

Diagramação

Num lance de especial sordidez, O Globo publica a chamada de capa para o editorial “é um abuso acusar Bolsonaro de genocídio” imediatamente abaixo de fotos tiradas nesta segunda-feira, 18, de familiares de vítimas da covid-19 chorando seus mortos justamente no plenário da CPI.

O Globo é feito por jornalistas profissionais; é veículo de um grande grupo de comunicação; tem ótimos articulistas; é até de papel. Mas, até para não banalizar o termo, é um abuso chamar O Globo de jornal.

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2 Comentários

  1. Eu percebi, ontem, assistindo a Globo News, que a linguagem já estava mudando, no sentido de aliviar as consequências para Bolsonaro de suas ações e omissões. A linguagem na negativa sempre causa menos impacto, menos culpa. Ai invés de dizer: Bolsonaro é sim o responsável pela grande maioria das mortes, dizia-se: “Bolsonaro não pode ser responsabilizado por todas as mortes”. É a mesma coisa? Sim, mas, até o tom de voz e a ênfase que se dá na fala, criam reações diferentes em quem está ouvindo. Uma outra coisa que está muito nítida é a ênfase dada pelo grupo Globo às divergências de Senadores, quanto, especialmente, aos crimes atribuídos ao presidente. Será que está sendo costurado um acordo com a imprensa?

  2. Isso que chamam de jornal na maior parte dos lugares do interior é papel higiênico e só serve mesmo para isso, se bem que cortadinho em pedaços do seu verdadeiro tamanho, como objeto de uso pessoal de uso irrestrito. Aqui no Rio/RJ ainda se crê que o tal de G-Roubo possa ajudar a uma minoria de direita a mostrar a que veio: fuder a mais não poder, como fez o Carlos Lamerda no passado: sujou tudo. pois essa era a sua função primordial e desde então muito pouco mudou. É triste se viver num lugar desses!!!

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