Ainda – ainda – não tem no Novo Ensino Médio brasileiro, por mais que o Novo Ensino Médio tenha a prestidigitação empreendedorística como elemento curricular. Mas já tem na Nueva Escuela Porteña.
Senhoras e senhores, vislumbrem o futuro:
Na cidade de Buenos Aires, governada pelo macrista Horacio Rodríguez Larreta, os estudantes do ensino médio das redes pública e privada terão, no ano letivo de 2022, 30 horas de educação financeira com conteúdo elaborado não por professores, mas por fintechs como Mercado Pago e Ualá, que é uma espécie de Nubank do sul do Rio da Prata.
Os jovens portenhos agora terão lições, por exemplo, sobre investimento em criptomoedas. A “educação financeira” by fintechs, que surpresa, não apenas deseduca sobre o diabo dos sistemas especulativos, mas transforma mesmo estudantes em clientes, ou melhor, presas da mais pura especulação.
Que o Mercado Pago esteja agora mesmo, na virada de 2020 para 2021, lançando sua carteira de investimento em criptomoedas na América Latina, isto é apenas mera coincidência. Outra é que a faixa etária onde os investimentos em criptomoedas mais crescem atualmente é justa e precisamente entre jovens com idades entre 16 e 18 anos.

Da maior cidade da Argentina para a maior cidade do Brasil: em São Paulo, o Mercado Pago ainda – ainda – não aprova currículo do Ensino Médio, mas desde 2020 os pais de alunos da rede pública que quiserem usar o subsídio da prefeitura para comprar uniformes escolares precisam baixar e e criar uma conta (que é uma conta bancária) no aplicativo do Mercado Pago.
‘Gincana da grana’
No dia 6 de novembro do ano passado estrou na Record o reality show “Gincana da Grana”. Foi, digamos, uma joint-venture entre a Record, a agência de publicidade paulistana GUT, a produtora Endemol, que é a criadora do programa Big Brother, e o Mercado Pago. Na “Gincana da Grana”, coube à indefectível Sabrina Sato fazer as vezes de Pedro Bial.
No primeiro episódio da coisa, os participantes brincaram de “subida rumo ao topo da dignidade financeira”, tarefa cheia de duplos sentidos: os competidores tiveram que subir até topo – o topo, sacou? – de uma parede de escalada pegando o maior número de cifrões e colando na própria roupa, que é disso que se trata a vida, afinal. Ao longo da escalada – como na vida, sabe? – eles enfrentaram distrações “que atrapalham a subida”.

Depois, cada um teve que montar um quebra-cabeça. Enquanto os competidores, que eram algumas subcelebridades, prestavam-se a este papel, uma “influencer” chamada Nath Finanças exibia todo o seu conhecimento sobre a psiquê empreendedora: “cada um aqui tem uma forma diferente de montar um quebra-cabeça, de utilizar uma estratégia, de fazer um planejamento”.
O detalhe é que o quebra-cabeça do reality de educação financeira do Mercado Pago tinha 12 peças de aproximadamente 30 centímetros de altura por outros 30 de largura, entediante até para as crianças mais velhas da educação infantil…
A “educação financeira” acrítica diante do livre mercado, e preparada pelo Mercado Livre, é a nova Educação Moral e Cívica.
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