Há motivos de sobra para a cassação de pelo menos – pelo menos – três deputados federais, e ainda não se passaram dois meses da estreia da atual legislatura.
Pela ordem:
Sargento Fahur
No dia 9 de fevereiro, quando a 57ª legislatura mal tinha completado uma semana de vigência, o deputado Sargento Fahur (PSD-PR), berrou na tribuna de um dos auditórios da Câmara: “Flavio Dino, vem buscar minha arma aqui, seu merda!”.
A “referência”, digamos assim, foi à portaria do Ministério da Justiça que determina prazo de 60 dias para os CACs recadastrarem suas armas de fogo no Sistema Nacional de Armas, gerido pela Polícia Federal.
O conteúdo em si do berro de Fahur já seria motivo para a sua cassação em qualquer República democrática que não queira, por leniência, virar outra coisa. Além disso, implícito no berro de Fahur está a ameaça de que ele irá reagir, e à bala, se algum agente do Estado aparecer na sua frente para fazer cumprir a lei.
Nikolas Ferreira
No dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, foi a vez de Nikolas Ferreira (PL-MG) assinar sua cassação. Ou assim seria, se vivêssemos naquela República democrática zelosa de si mesma. Naquele dia, Nikolas usou a tribuna da Câmara para fazer um discurso francamente transfóbico, cheio de escárnios e zombarias, chegando a usar uma peruca e se apresentar como “Nikole” para impregnar o plenário da Câmara de ódio contra pessoas transgênero.
Julia Zanatta
No dia 17 de março, a deputada Julia Zanatta posou armada com uma carabina e vestida com uma camiseta estampada com frase semelhante àquela berrada por Fahur – “come and take it” – escrita ao lado de um desenho de Lula alvejado por três tiros.

Memória curta, ‘prescrição’ a jato
Todos os três, Fahur, Ferreira e Zanatta, foram ou serão representados no Conselho de Ética da Câmara. A “antifeminista do fuzil” foi representada pelo Psol nesta sexta-feira, 24. O Conselho de Ética da 57ª legislatura, porém, sequer foi instalado até agora, e as representações dormitam na Mesa da Câmara.
A Comissão de Cultura da Câmara, por exemplo, já está funcionando, e na primeira reunião da comissão, no dia 15 e março, o deputado Marco Feliciano (PL-SP) se referiu assim à ministra da Cultura, Margareth Menezes: “eu quero saber o que ela é. Eu sei que é uma mulher. Eu não sei se pode ser chamada de mulher ou não”.
Também nesta sexta, uma reportagem do Estadão deu conta de que o senhor Arthur Cesar Pereira de Lira, o Cesar que preside a Câmara com um fósforo aceso na mão, pretende finalmente levantar o polegar para a instalação da Conselho de Ética.
A instalação do conselho não é garantia de punição exemplar para quem está na fila da cassação. Pelo histórico, muito pelo contrário. Mas a matéria do Estadão cita os casos de Nikolas Ferreira e Julia Zanatta, mais recentes, e já nem menciona o caso do Sargento Fahur, que este Come Ananás deu em primeira mão e o Estadão noticiou também, apenas semanas atrás.
Não demora, e ninguém mais vai se lembrar, importar-se ou conseguir força para expulsar do Congresso Nacional, por exemplo, uma deputada federal que veste a camisa de mandar bala no presidente da República.