A chacina de 26 pessoas na Vila Cruzeiro na última terça-feira, 24, foi na verdade a segunda levada a cabo pelo Bope e pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) na mesma favela do Rio de Janeiro num intervalo de pouco mais de três meses.
No dia 11 de fevereiro, outra operação do Bope e da PRF na Vila Cruzeiro resultou na morte de outras oito pessoas. As fotos do que foi apreendido nas duas operações são muito parecidas. As bandeiras pretas são do Bope, com um punhal atravessando uma caveira, e do Núcleo de Operações Especiais da PRF, com um punhal e um raio sobre o mapa do Brasil:


Quem disse que dois raios não caem duas vezes no mesmo lugar?
Somados os mortos das duas chacinas, 34, a dobradinha Bope/PRF já matou mais na Vila Cruzeiro em 2022 do que a operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro, a da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) no Jacarezinho em maio de 2021, quando 28 pessoas foram assassinadas.
Além das inúmeras contradições da “narrativa” oficial sobre os fatos da última terça, a informação de que o Bope e a PRF já tinham promovido uma chacina na Vila Cruzeiro 14 semanas atrás põe em xeque a alegação de que a chacina maior e mais recente foi resultado de uma operação de inteligência “planejada durante meses”, mas que só na última hora virou uma “ação emergencial que não tinha como objetivo cumprir mandados de prisão”, porque os policiais teriam sido atacados.
Em fevereiro, o comandante da PM do Rio, Luiz Henrique Marinho, contou a mesma história:
“É uma operação integrada entre a Polícia Militar e a Polícia Rodoviária Federal em cima de um trabalho de inteligência que foi feito durante alguns dias, alguns meses. A informação que nós tínhamos era que integrantes de uma grande facção estavam escondidos”.
‘Integração visa diminuir a letalidade’
Uma semana antes da chacina de fevereiro, o diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasques, reuniu-se com o comandante do Bope, tenente-coronel Uirá Ferreira, na sede do batalhão no Rio de Janeiro. Silvinei Vasques estava acompanhado do superintendente da PRF no Rio, Rômulo Ferreira da Silva.

Em agosto do ano passado, Rômulo Silva rendeu o próprio Silvinei Vasques na chefia da superintendência da PRF no Rio, iniciando um “novo ciclo na gestão da PRF no Rio de Janeiro, marcado pela integração entre os órgãos”. O senador Flavio Bolsonaro compareceu à cerimônia de transmissão do cargo, além dos deputados federais Helio Lopes (“Helio Bolsonaro”), Felício Laterça e Major Fabiana – todos bolsonaristas.
Esta é a deputada federal Major Fabiana comemorando os “neutralizados” na última terça na Vila Cruzeiro:
Comentando a participação da PRF na operação da última terça na Vila Cruzeiro, Rômulo Silva disse ao jornal O Globo que “as ações de segurança pública integradas visam diminuir a letalidade. O objetivo da operação é prender os líderes das facções, mas fez-se necessária a força do Estado”.
