Há algo errado com a água da Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Em outubro de 2019, um porteiro disse à Polícia Civil do Rio de Janeiro que foi o “Seu Jair” quem no dia 14 de março de 2018 autorizou a entrada de Élcio de Queiroz no condomínio Vivendas da Barra, de onde Élcio saiu com Ronnie Lessa naquele dia para cumprirem a ordem de serviço de execução da vereadora Marielle Franco.
No livro do condomínio, constava o registro da entrada de Élcio de Queiroz para visita à casa 58, a do “Seu Jair”, em anotação feita à mão horas antes de Marielle ser assassinada com quatro tiros na cabeça.
Não obstante, um mês depois o porteiro, ameaçado de prisão pelo então ministro da Justiça, Sergio Moro, mudou o depoimento, dizendo à polícia do Rio que “se confundiu” e que Élcio de Queiroz havia entrado no condomínio na verdade para visitar a casa 66, de Ronnie Lessa.
Agora, após vir à tona que uma irmã do miliciano Adriano da Nóbrega afirmou que a morte do “Capitão Adriano” na Bahia foi uma queima de arquivo planejada e negociada no Palácio do Planalto, a família Bolsonaro escala ninguém menos que Fabrício Queiroz para dizer que a moça “se confundiu” também.
Segundo Queiroz, em vez de “Palácio do Planalto”, a irmã de Adriano da Nóbrega queria dizer na verdade “Palácio Laranjeiras”, habitado por Wilson Witzel na época em que Adriano foi crivado de balas no sítio de um vereador bolsonarista na Bahia, onde estava entocado, foragido pelos crimes de receptação de mercadorias roubadas, cobrança irregular de taxas à população e grilagem de terras.
“Ela se equivocou no tocante a isso. É só ouvi-la”, reiterou Jair Bolsonaro na live desta quinta-feira, 7. “É só ouvi-la”, como foi só ouvir o porteiro de novo.
“Alguém me aponte um motivo que eu poderia ter para matar a Marielle Franco”, disse ainda Bolsonaro.
Que Flavio Bolsonaro tenha enriquecido mediante um esquema de grilagem de terras e construções ilegais na Zona Oeste do Rio, esquema gerenciado por Fabricio Queiroz e que envolvia Adriano da Nóbrega, e que este esquema, ou melhor, este ramo miliciano-imobiliário da Zona Oeste tenha sido apontado por um general da intervenção no Rio como o motivo do assassinato de Marielle Franco, tudo isto deve ser só alguma confusão também.
Há algo errado com a água da Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Ou é só a máfia mesmo.
Ou é tudo apenas “narrativa” da “extrema imprensa” para incriminar o “Seu Jair”.
O “cara da casa de vidro”, por exemplo, mencionado em outra conversa interceptada sobre a morte de Adriano da Nóbrega, deve ser uma referência ao Conde D’Eu, que não encomendou a morte de ninguém, mas apenas, e para dar de presente à princesa Isabel, o Palácio de Cristal.
Realmente, tantas distorções falsas sempre que provas apontam inequívoca e fartamente a responsabilidade dos Bolsonaros em tantos crimes, já constituem uma execrável rotina: substituição da autoridade que inicia a investigação seriamente até a “queima de arquivo “.
Verdades não podem, nem devem ser alteradas nem mesmo moderadas.