“Com o rigor e a qualidade da marca da Folha da Manhã, o Estúdio Folha utiliza as ferramentas do jornalismo para oferecer conteúdo feito sob medida para marcas”.

É assim que o Grupo Folha define o seu Estúdio Folha, departamento de publijornalismo, publieditorial, anúncio nativo, ou nome mais cool que se queira dar a matérias pagas inseridas no noticiário, digamos, orgânico, com tratamento gráfico diferenciado, pero no mucho.

Vamos fingir que não notamos a contradição entre utilizar a técnica jornalística para produzir “conteúdo sob medida para marcas”, e vamos contar como sapo engolido, digerido e passado em movimentos peristálticos que não é de hoje que jornais publicam matérias pagas, muitas vezes de governos e corporações diante dos quais repórteres diligentes se empenham para abrir – aí, sim – a caixa de ferramentas do jornalismo.

A própria Folha de S.Paulo, via Estúdio Folha, publicou em dezembro de 2021 matérias pagas pelo governo mineiro sobre como “Minas Gerais oferece Turismo de Experiência” e como “Minas Gerais é ideal para turismo de natureza”. No mês seguinte, 10 pessoas morreram quando um paredão de pedras despencou sobre barcos de turistas no canyon da cidade mineira de Capitólio.

Na época, a imprensa apurou a informação de que nas proximidades do local da tragédia vinham acontecendo implosões, além de uso de maquinário pesado, nas obras um complexo turístico. Tudo sem fiscalização. Em um dos empreendimentos que já haviam sido inaugurados, quem tinha cortado a fita foi o então secretário de Cultura e Turismo de Minas Gerais.

Pano rápido.

Em geral, é disso que se trata o tal publijornalismo: produção e publicação na imprensa de referência de material discutido e aprovado por aquele que o Grupo Folha, por exemplo, chama de “patrocinador”.

Mas… fazemos qualquer negócio? Mesmo quando o negócio em questão é o da informação, que envolve responsabilidades específicas e, por isso, não é um negócio como outro qualquer? Pagou, levou?

Resposta: mesmo no contexto dos estragos que o fanatismo e a mistificação religiosos vêm causando ao país, a Folha publica neste domingo, na página 9 do seu caderno principal, um Estúdio Folha patrocinado por uma igreja pentecostal com o título “Igreja Cristã Maranata mostra sinais bíblicos que anunciam volta de Jesus”.

O texto, produzido “com o rigor e a qualidade da marca da Folha da Manhã”, traz o pastor-presidente da seita dizendo que entre “os sinais que apontam para a volta de Jesus Cristo à Terra” estão “os receios da escalada de conflitos generalizados”. Surpreende que o Cristo tenha perdido o timing da primeira e da segunda guerras mundiais.

Aliás, esperamos agora um Estúdio Folha anunciando a boa nova, sob medida para a marca – aquela marca -, de algum novo reich.

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