À base de um moralismo raso e alardeado como incumbência divina; sem provas, mas repleto de “convicções” contra Lula que mal resistiam ao contato com o ar, Deltan Martinazzo Dallagnol cumpriu com diligência tão sórdida quanto tenaz, tão cínica quanto canina a incumbência que recebeu na verdade das forças político-econômicas que babavam para desatar no Brasil uma Grande Marcha Para Trás, não excluídos da lista dos seus amos os Estados Unidos da América.
Deltan Dallagnol teve seu mandato de deputado federal cassado nesta terça-feira, 16, por decisão unânime do plenário do TSE de seguir o voto do relator, ministro Benedito Gonçalves. Dallagnol foi cassado por fraudar a Lei da Ficha Limpa: na iminência de ser expulso do MPF pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e, por consequência, ficar inelegível, pediu exoneração antes de vir a punição.
Sobre esta estirpe de artimanha, o ministro-relator citou como precedente uma decisão de 2012 do Supremo Tribunal Federal, no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade 4.578, sobre hipóteses de inelegibilidade. Benedito Gonçalves citou especificamente o voto do relator daquela ADI, Luiz Fux: “não poderia se beneficiar eternamente da presunção de inocência – votou Fux em 2012 – o cidadão que renuncia, já que fica prejudicado o procedimento de apuração de responsabilidade”.
No dia 12 de junho 2019, o Brasil descobriu, graças à Vaza Jato, o que Sergio Moro e Deltan Dallagnol conversaram sobre Luiz Fux num Dia do Descobrimento do Brasil. Isto:
Mensagens de 22 de abril de 2016
Dallagnol 13:04:13 – Caros, conversei com o FUX mais uma vez, hoje
Dallagnol 13:04:13 – Reservado, é claro: O Min Fux disse quase espontaneamente que Teori fez queda de braço com Moro e viu que se queimou, e que o tom da resposta do Moro depois foi ótimo. Disse para contarmos com ele para o que precisarmos, mais uma vez. Só faltou, como bom carioca, chamar-me para ir à casa dele rs. Mas os sinais foram ótimos. Falei da importância de nos protegermos como instituições
Dallagnol 13:04:13 – Em especial no novo governo
Moro 13:06:55 – Excelente. In Fux we trust
Dallagnol 13:13:48 – Kkk…
Aha, uhu
Um voto logo de Fux, que, de resto, em 2020 tentou blindar Deltan Dallagnol no CNMP ao mandar o órgão desconsiderar como agravante, no âmbito dos processos que corriam contra Dallagnol, uma advertência recebida em 2019 pelo então procurador por ter dito numa entrevista que o STF sinalizava leniência com a corrupção.
Um voto de Luiz “In Fux We Trust” sendo usado como precedente para cassar Deltan Martinazzo Dallagnol é, porém, menos uma ironia do destino e mais um lembrete incômodo. Este: seguem sem serem incomodadas a excelentíssimas figuras das instâncias judiciárias superiores que conferiram à Lava Jato poderes “excepcionais”, ao arrepio da lei, e autorizaram Sergio Moro a fazer antes o papel de carrasco que de juiz de Direito.
De Luiz “In Fux We Trust” aos doutores do TRF-4, passando por Luis Roberto “89% Barroso” e Edson “Aha, uhu, o Fachin é nosso”.