No dia 10 de maio de 2017, uma quarta-feira, Lula pisou pela primeira vez na sala de audiências da 13ª Vara Federal de Curitiba, para prestar depoimento a Sergio Moro, cerca de um ano antes de ser preso por determinação de Moro no âmbito da operação, da conspiração Lava Jato.
Entre outros fatos notórios da época – e mais antigos, e mais recentes -, as capas das edições das revistas Veja e IstoÉ publicadas no fim de semana anterior jamais nos deixarão esquecer daquele “primeiro encontro cara a cara”, daquele assim chamado “ajuste de contas” entre Moro e Lula.

“Primeiro encontro cara a cara”, de fato, a despeito da arte de capa que dispensa comentários. “Ajuste de contas”, não senhor.
O “ajuste de contas” está mesmo em andamento, e agora mesmo Léo Pinheiro reconhece mentirosas as delações que fez contra Lula diante do inquisidor-geral de Aragão, ou melhor, de Curitiba: “não tenho conhecimento, nem autorizei nenhum pagamento ou oferta de vantagens indevidas ou me foi solicitado ou exigida pelas pessoas (autoridades) citadas”.
Naquele 10 de maio de 2017, lá pelas tantas, Moro dirigiu-se a Lula para falar do que Léo Pinheiro dissera à Lava Jato:
“O senhor Léo Pinheiro afirmou em juízo que teria encontrado o senhor no início de 2014, ocasião na qual o senhor teria perguntado a ele se haveria um registro documental de pagamento de propina pela OAS ao Partido dos Trabalhadores por João Vaccari Neto. Na ocasião, ele afirmou que o senhor ex-presidente teria orientado a destruir essas provas, se elas existissem, algo como: ‘se existir, destrua'”.
“Se tiver, destrua” havia sido a capa da revista Veja duas semanas antes, acompanhado de um garrafal “ACABOU” sobre a foto de Lula rasgado ao meio, destruído como um documento comprometedor:

Lula respondeu a Moro:
“Eu jamais, jamais disse para o Léo o que ele falou. Jamais, jamais pedi. Aliás, é outra coisa, doutor Moro, que é importante o senhor saber o que eu penso. Eu vi já alguns depoimentos, eu vi a busca e apreensão na casa do jornalista Eduardo Guimarães, depois eu vi o Duque falar, depois eu vi acho que o Léo falar, entrou numa introdução de tentar mostrar que eu ficava pedindo para as pessoas esconderem documento…”.
“Isso nunca aconteceu?”, interrompeu Moro.
“Nunca aconteceu – disse Lula – e nunca vai acontecer”.
‘Mês Lula’
“É um nome de peso. Sua confissão impressionará”, disse um membro da operação ao juiz. Não da operação Lava Jato, mas da operação da Santa Inquisição em Salém, Massachusetts, no século XVII; não ao juiz Moro, mas ao juiz Danforth. Referia-se, aquele algum meirinho do filme inspirado na peça de Arthur Miller, ao fazendeiro John Proctor, de quem o Santo Ofício queria a todo custo arrancar a confissão de que andara a serviço do diabo.
Ainda naquele depoimento de cinco horas dado por Lula a Sergio Moro, Luis Inácio falou, Luis Inácio avisou:
LULA: Aqui na sua sala estiveram 73 testemunhas, grande parte de acusação do Ministério Público.
MORO: Certo.
LULA: Nenhuma me acusou, o que aconteceu nos últimos 30 dias, doutor Moro, vai passar para história como o “mês Lula”, porque foi o mês em que vocês trabalharam, sobretudo o Ministério Público, para trazer todo mundo para falar uma senha chamada “Lula”, sabe? O objetivo era dizer “Lula”, se não dissesse “Lula”, não valia.
MORO: O senhor entende que existe uma conspiração contra o senhor?
LULA: Eu entendo e acompanho que pessoas como Léo Pinheiro, que está já há algum tempo querendo fazer delação… primeiro ele foi condenado a 23 anos de cadeia, depois se mostra na televisão como é que vive uma vida de nababo dos delatores e o cara fala: ‘pô, estou condenado a 23 anos e os delatores deram uma parte, eu estou vivendo essa vida’. Então, delatar virou, na verdade, quase que o alvará de soltura dessa gente. Eu tenho acompanhado, estou atento e estou percebendo.