No início de janeiro, a economista-chefe da operação do Credit Suisse no Brasil desceu o sarrafo no governo que mal tinha começado. Em uma entrevista à imprensa, Solange Srour bateu forte na PEC da Transição aprovada “para bancar o Bolsa Família”, porque, no seu entender, R$ 170 bilhões fora do teto de gastos “é um valor substancial para um país como o Brasil”.
“Um país como o Brasil” é, antes de mais nada, um país com necessidade social crônica. Mas aos assalariados-chefes das formas mais insanas do capital cabe é isso mesmo: rogar “austeridade” como o cervo brama por água fresca.
A economista-chefe do Credit Suisse Brasil disse ainda que não havia sinalização do governo Lula na direção da responsabilidade fiscal, no que o mercado, como se sabe, enerva-se. Sobre o uso de bancos públicos para fomentar o crescimento econômico, criticou o crédito subsidiado: “a política monetária perde eficiência se uma parte do mercado de crédito está fora do controle de juros do mercado”.
A economista-chefe do Credit Suisse Brasil ainda cobrou do novo governo “menos intervencionismo possível” e receitou a Fernando Haddad um ajuste fiscal de R$ 400 bilhões. Por extenso: quatrocentos bilhões de reais, para garantir a liquidez das contas públicas.
Pois nesta quarta-feira, 15, para garantir a liquidez das contas privadas, o Credit Suisse apareceu na porta do Banco Central da Suíça chorando como um fofo bebê helvético criado a leite de vacas alpinas, implorando “demonstração pública de apoio” no momento em que o preço das suas ações estava em queda de 30%.
Implorando, portanto, máximo intervencionismo possível e crédito subsidiado.
Ainda nesta quarta, mais tarde, o Credit Suisse divulgou um comunicado à imprensa anunciando que seria socorrido pelo Banco Central Suíço com 50 bilhões de francos (US$ 54 bilhões, R$ 285 bilhões, bem mais que o reservado “para bancar o Bolsa Família”); bilhões e bilhões e bilhões acertados “sob uma Facilidade de Crédito Coberto, bem como uma facilidade de liquidez de curto prazo”.
Ufa: nesta quinta-feira, 16, as ações do Credit Suisse, banco metido em mil maracutaias – que a mídia corporativa chama de “polêmicas” -, disparavam acima da casa dos 30% na abertura do mercado europeu de ações. Uma conhecida diretora de investimento da City londrina, por exemplo, soltou assim a respiração: “felizmente, parece haver uma tábua de salvação para o credor encurralado, o que deve evitar outro Lehman, para grande alívio dos mercados e dos investidores do Credit Suisse”.
A referência, claro, foi à quebra do Lehman Brothers, em 2008, não à das empresas de um certo empresário suíço-brasileiro, no indicativo presente.
Mas lembre-se do Credit Suisse, de mais esta “tábua de salvação” de um bancão, quando você for convidado pra subir no adro de alguma Fundação Lemann, pra ver do alto a fila de economistas-chefes de bancos estrangeiros dando porrada na nuca de um governo democrático recém-empossado, entrando em pânico diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer sinal de rompimento com o ronrom neoliberal.
Pense do Credit Suisse, reze pelo Credit Suisse – ou nem por isso.