A cena de violência explícita protagonizada nesta semana por Tarcísio Tacape de Freitas na ex-Bovespa, atual B3, foi nada menos que chocante. Há, porém, todo um histórico de barbaridades cometidas na Bolsa de Valores do Brasil sob a túnica das mais plácidas composturas.
Exemplo: no dia 9 de fevereiro de 2020, o então CEO da operação do Credit Suisse no Brasil, José Olympio Pereira, e o então presidente do conselho brasileiro do banco helvético, Ilan Goldfajn, juntaram-se ao presidente da Petrobras à época, Roberto Castello Branco, para o toque de sino da oferta de todas – todas – as ações com direito a voto que o BNDES tinha – tinha – da companhia: 9,6% das ações ordinárias da Petrobras.

A venda amealhou R$ 22 bilhões para compor os superávits da vida e reduziu a participação do Estado brasileiro na Petrobras para o limiar do que determina a Lei do Petróleo, que é de 50% mais uma ação das que dão direito de participação nas decisões da (cada vez menos, portanto) estatal.
Aquele estágio da privatização do sistema Petrobras, levada a cabo a toques de sino e na esteira da terraplanagem feita pela Lava Jato, foi a maior oferta de ações realizada no Brasil em 10 anos. O Credit Suisse, “coordenador líder” da oferta, embolsou uma comissão de cerca de R$ 44 milhões (0,2% da operação). A XP também atuou na oferta. Antes, em julho de 2019, o Credit Suisse já tinha coordenado a privatização da BR Distribuidora, também via oferta de ações.
Quase um ano depois de a alta cúpula do Credit Suisse comparecer em peso na B3 para o toque de sino da Petrobras, precisamente no dia 28 de janeiro de 2021, o, digamos, ex-“coordenador-líder” da Lava Jato, Sergio Moro (na época, sócio-diretor da Alvarez & Marsal), palestrou sobre “luta contra a corrupção e governança corporativa no Brasil” na “2021 Latin America Investment Conference: a New Decade, a New World”, evento organizado pelo Credit Suisse.
O moderador da apresentação de Moro foi o tocador de sino José Olympio Pereira. Quem antecedeu Moro na programação do seminário foi o tocador de sino Roberto Castello Branco. O tocador de sino Ilan Goldfajn moderou um dueto de Michel Temer e Fernando Henrique Cardoso sobre “Política e Instituições no Brasil”, além da palestra de Paulo Guedes. Quem abriu aquele seminário do Credit Suisse foi Jair Messias Bolsonaro, tocador-mor de terror.
Estavam todos lá: os tocadores de sino e os tocadores de terror, o que, vide Tarcísio Tacape, dá quase no mesmo, principalmente onde vigora o capitalismo burocrático, repleto de jagunços dos monopólios transnacionais usando passeio completo.
Faltaram, lá, Deltan Dallagnol e um enviado do Com Supremo, Com Tudo. Na época, presidia a egrégia corte o excelentíssimo In Fux We Trust.
Mas faltaram mesmo?
Em 2019, a Vaza Jato revelou que Dallagnol e Fux participaram de dois dos encontros secretos sobre “Lava Jato e eleições” que a XP promoveu em São Paulo em 2018 entre “personagens importantes do cenário nacional” e as cúpulas de grandes bancos brasileiros e internacionais, com promessa de não sair “nenhuma nota na imprensa”.
No dia 17 de maio de 2018, quando Dallagnol foi convidado, via Telegram, para estrelar um dos colóquios, o então procurador foi logo perguntando à “analista de política e Judiciário da XP” quais seriam exatamente os bancos presentes no encontro secreto, no que a Débora respondeu: “JP Morgan, Morgan Stanley, Goldman Sachs, Credit Suisse…”.
O tempo voa, e semanas atrás, após a XP aparecer com um balanço minguado, o Credit Suisse foi lá e encaçapou-lhe um rebaixamento de recomendação e deu-lhe uma tesourada de 19% no preço-alvo das ações. Nesta semana, foi o preço das ações do Credit Suisse que despencou, e perto de 30%. Não fosse o Banco Central da Suíça, O Credit Suisse teria sucumbido à primeira turbulência mais preocupante no sistema financeiro internacional nos últimos anos, após o banco helvético passar os últimos anos colecionando escândalos de corrupção.
Eis mais um: o Credit Suisse chamando para dar palestra e tendo encontro clandestino respectivamente com o CEO (Moro) e o COO (Dallagnol) da conspiração que foi para, entre outras razões, desnacionalizar a Petrobras e o pré-sal, no passo em que, tocando sinos, o Credit Suisse tocava a desnacionalização da Petrobras.
Tudo sem violentos golpes de tacape, só com suaves tapinhas nas costas – e blem, blem, blem.