Onze, não mais que onze quilômetros separam a cidade de Sderot, no sul de Israel, do campo de refugiados de Jabalia, no norte da Faixa de Gaza.
Até 1948, a área onde hoje fica Sderot era uma aldeia árabe chamada Huj. Em Huj, palestinos ajudavam a esconder judeus da milícia Haganá perseguidos pelo exército britânico, no final do Mandato Britânico na Palestina.
Quando Israel foi criado, em 1948, e aconteceu a Nakba, a catástrofe da expulsão de pelo menos 750 mil palestinos de suas terras, o exército sionista, composto por muitos ex-integrantes da Haganá, tocou o terror em Huj e em Huj não sobrou nenhum palestino: foram todos contar a história em Gaza, onde, hoje, estima-se que vivem apertadinhos mais de seis mil dos seus descendentes.
Vivem? Quantos dos descendentes dos palestinos de Huj estão entre os quase 10 mil palestinos mortos por Israel em Gaza desde o último dia 7? Quantos vivem ou morreram em Jabalia, o maior dos campos de refugiados que surgiram em Gaza após a Nakba, nos ataques aéreos que Israel fez nesta semana ao local, deixando mais de 200 mortos, em nome de matar dois líderes do Hamas?
Duzentos mortos, 10 mil mortos? Ah, desculpe: “os números não podem ser confirmados de maneira independente”.
Em 2014, quando aconteceram os últimos grandes bombardeios de Israel a Gaza, antes dos atuais, alguns israelenses inocentes de Sderot subiram uma colina com cadeiras de praia, comes e bebes, para assistir e aplaudir as explosões que aconteciam logo ali, a 11 quilômetros de distância.
Naquele ano de 2014, mais de 400 crianças crianças morreram em Gaza por causa dos ataques de Israel, sob as palmas dos inocentes de Sderot. O número exato, 408, tinha sido inicialmente informado pelo Ministério da Saúde de Gaza e depois foi, ora veja, “confirmado de maneira independente”.
Agora, nos ataques em curso, já são quase quatro mil crianças palestinas assassinadas, e contando. Os inocentes de Israel nunca pararam de aplaudir o exército do rei Davi. Nem esperam que o espetáculo mortífero seja “confirmado de maneira independente”.
Mas é em Gaza que, segundo o ministro da Defesa de Israel, Yoav Galant, “não há inocentes”.
Por falar nos inocentes que não existem em Gaza: em 2014, Israel atacou Jabalia em nome de matar dois líderes da Jihad Islâmica, matando, de lambuja, 24 civis palestinos, seis deles crianças, cinco delas explodidas em um ataque aéreo a um cemitério.
Na época, com os corpos das crianças ainda quentes, Israel negou veementemente que tivesse atacado alvos em Jabalia.
“As forças de segurança israelenses não bombardearam Jabalia. Está irrefutavelmente provado que esse incidente é o resultado de um disparo de foguete fracassado da Jihad Islâmica”, afirmou Tel Aviv, em comunicado.
Igualzinho a ainda agora, na semana retrasada, após o ataque ao hospital Al-Ahli, na Cidade de Gaza, poucos quilômetros ao sul de Jabalia.
Na época, lá em 2014, o pai de quatro dos cinco meninos mortos por Israel em um cemitério de um campo de refugiados fez um apelo ao mundo:
“Nossos filhos eram inocentes e jovens e estavam no cemitério em frente à nossa casa, visitando o túmulo do avô. Eles foram mortos a sangue frio. Apelamos a todas as partes para que se mantenham conosco e apoiem a causa dos nossos filhos nos tribunais internacionais”.
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