Denunciado por dois senadores por cometer ato transfóbico durante uma sessão da CPMI do 8/1, o deputado federal Abilio Brunini (PL-MT) teve como maior doador individual da sua campanha para a Câmara o empresário Fernando de Resende Silva, diretor agrícola do Grupo Atto, que é líder na produção de sementes de soja e milheto do Brasil.
A figura de Abilio Brunini vem se tornando nacionalmente conhecida por sua “atuação” na CPMI do 8/1. Durante as sessões da comissão, Abílio, que sequer é membro dela, costuma se sentar ao lado de deputados ou senadores da base do governo no momento de suas intervenções, tentando atrapalhá-los com risadas, sussurros provocativos e apontando para eles a câmera do seu telefone celular.
Mesmo tumultuando reiteradamente uma CPMI, Abilio Brunini é visto pela maioria dos colegas como “folclórico”, “bobo da corte” e que tais. Quase um café com leite na luta entre Democracia e barbárie. Até que nesta terça-feira, 11, a coisa ficou mais séria – a coisa sempre fica mais séria em algum momento, tratando-se de políticos “folclóricos”.
Segundo testemunhos dos senadores Rogério Carvalho (PT-SE) e Soraya Thronicke (União-MS), no momento em que a deputada transexual Erika Hilton (PSOL-SP) estava com a palavra na sessão desta terça da CPMI, Abílio disse que Erika estava “oferecendo serviços”.
O presidente da CPMI, deputado Arthur Maia (União-BA), determinou a abertura de uma investigação pela Polícia Legislativa do ato transfóbico cometido pelo deputado, cuja campanha em 2022 recebeu de Fernando de Resende Silva, do Grupo Atto, a quantia de R$ 50 mil, por transferência eletrônica feita no dia 24 de agosto.
Além de diretor agrícola do Grupo Atto, Fernando é sócio de Odilio Balbinotti Filho, que é presidente do grupo, na Ogt Administração E Participacoes Ltda, uma das controladoras da subsidiária Atto Agricola LTDA. O Grupo Atto e a Ogt funcionam em um mesmo endereço em Rondonópolis, Mato Grosso. A Atto Agrícola é sediada em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.
“Rei das sementes”, Odilio Balbinotti Filho está entre os 10 maiores doadores da chapa Bolsonaro-Braga Netto em 2022, tendo comparecido com R$ 600 mil para a tentativa de reeleição de Jair Bolsonaro. Odilio fez também uma das 10 maiores doações para candidatos a deputado federal nas últimas eleições: R$ 500 mil para a campanha de reeleição de José Medeiros (PL-MT) para a Câmara.
José Medeiros recebeu ainda R$ 45 mil de um terceiro sócio da Ogt Administração E Participacoes Ltda, Cleiton Sergio Bruschi. Um quarto, Jorge Soares da Silva, também doou para a campanha de Medeiros – R$ 35 mil.
José Medeiros foi reeleito com 82.182 votos. Ele foi o terceiro deputado federal mais votado no Mato Grosso. O segundo foi Abilio Brunini, com 87.072 votos. Reeleito, José Medeiros apresentou em abril um projeto de lei para descriminalizar a transfobia. O PL 2372/2023 “exclui a possibilidade de se caracterizar como crime o fato de se tratar alguém de acordo com sua classificação biológica original como homem ou mulher”.
“A ninguém podem ser negados, por motivo de sua opção sexual, direitos ou prerrogativas sociais a todos reconhecidas. Mas não é disso que se cuida aqui. O que não se pode é concluir daí que as pessoas comuns estejam obrigadas a aceitar percepções quanto à sexualidade humana que vão contra os costumes sociais e as evidências científicas”, escreveu José Medeiros na justificação.
No fim de junho, José Medeiros anunciou que Abilio Brunini, o “folclórico”, é o candidato preferido de um outro “folclórico”, Jair Bolsonaro, à prefeitura de Cuiabá em 2024 pelo PL. Dias antes, Abilio apareceu em primeiro lugar em uma pesquisa Percent, com 21% das intenções de voto.