O surgimento da variante B.1.1.529 em Botsuana e na África do Sul é como que a natureza passando um sabão nos mais animados para sacramentar que “tá liberada a porra toda”, como assanhou-se o folião Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro.
A B.1.1.529, que nesta sexta deve ser classificada pela OMS como a sexta “variante de preocupação”, é uma dura advertência de que, ainda que correspondendo à divisão internacional do trabalho – portanto, ainda que desigual -, o avanço em todo o mundo da vacinação contra a covid-19, salvando vidas, fazendo despencar internações, engendra um paradoxo que, espera-se, jamais venha à luz.
Foi o que disse Kevin McCarthy, professor de microbiologia e microgenética da Universidade de Pittsburgh, em reportagem publicada nesta quinta-feira, 25, no Financial Times: “se o vírus for confrontado com a escolha binária de evoluir ou se extinguir, ele irá evoluir”.
Segundo McCarthy, a evolução do vírus, com as vacinas atrapalhando-lhe a vida, desacelerando as mutações, está “se aproximando de um ponto crítico”.
É neste momento que aumenta o risco de o vírus, ainda circulando forte, mudar de forma tão súbita e radical a ponto de driblar a proteção das vacinas, ou seja, para além de fazer aumentar a transmissibilidade e a virulência, que foram até agora o máximo de estrago causado pelas variantes de preocupação.
Seria o que os cientistas chamam de “variante de escape”, e os cientistas esperam que ela não seja a B.1.1.529.
O gráfico abaixo mostra a velocidade com que as variantes Beta, Delta e B.1.1.529 se tronaram dominantes da África do Sul. Não é um gráfico animador.

“Mas não faz mal porque depois melhora tudo no carnaval”.