A fabricante de pistolas Taurus anunciou no último 3 de agosto uma parceria com a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), para “a formação de nossos colaboradores” e para aumentar “a velocidade no atendimento ao cliente” – talvez Roberto Jefferson.
Já em setembro deve ser criada uma turma de pós-graduação em “Engenharia e Sistemas de Produção Taurus”.
Instituição jesuíta, mantida pela Associação Antônio Vieira, a Unisinos é uma das maiores universidades privadas do Brasil. Tanto a fábrica da Taurus quanto a Unisinos ficam na cidade gaúcha de São Leopoldo. O presidente da empresa, Salesio Nuhs, disse que a parceria é “passo fundamental para o avanço da Taurus na Indústria 4.0”, e deu detalhes:
“Esta parceria tem três principais frentes de atuação: o projeto Taurus Excelência Operacional, o Centro Integrado de Tecnologia e Engenharia e o desenvolvimento do Programa de Capacitação em Pesquisa e Inovação Taurus para a formação de todos os nossos colaboradores que irão, nos próximos anos, passar por todas as transformações e oportunidades que a quarta revolução industrial apresenta”.
O padre e The Judge
Em 2015, um “berro” da Taurus foi tema de uma dissertação de mestrado defendida na Unisinos. O título da dissertação até que lembra aquele de um dos mais famosos sermões do Padre Antonio Vieira, o “Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda”.
O título da dissertação é “A inovação como recurso na internacionalização de empresas brasileiras: o caso do revólver The Judge no mercado norte-americano”, e o trabalho teve por objetivo avaliar “como a inovação de produto foi empregada como recurso estratégico” no Bom Sucesso internacional da Taurus S.A.
‘Setores portadores de futuro’
No início de julho, um mês antes de assinar com a Unisinos, a Taurus já havia anunciado um convênio com outra importante universidade privada do RS, a Universidade de Caxias do Sul (UCS), para realizar pesquisa e desenvolvimento de pistolas com grafeno, um material à base de carbono considerado um dos mais leves e resistentes que existem.
A parceria, segundo a Taurus, permitirá a rápida realização de testes e desenvolvimento de protótipos de armas através da UCSGRAPHENE, que faz parte do Parque de Ciência, Tecnologia e Inovação da Universidade de Caxias do Sul.
O site do UCSGRAPHENE dá conta de que:
“O UCSGRAPHENE é a primeira e maior planta de produção de grafeno em escala industrial da América Latina instalada por uma universidade. Em operação desde março de 2020, reúne a expertise da Universidade de Caxias do Sul conquistada em 15 anos de pesquisa avançada em nanomateriais, gerando grafeno de alta qualidade para a prestação de serviços tecnológicos inovadores a setores portadores de futuro”.
No dia 8 de julho, menos de uma semana depois de assinado o convênio com a UCS, o Valor Investe noticiava que o preço das ações preferenciais da Taurus havia subido 3,1% por causa do lançamento de armas de grafeno: “a Taurus havia anunciado no dia 2 uma parceria com a Universidade de Caxias do Sul para desenvolver o modelo”.
‘Presidente trezoitão’
No dia seguinte, 9 de julho, Jair Bolsonaro foi recebido na 1ª Feira Brasileira do Grafeno, em Caxias do Sul, por Salesio Nuhs e pelo reitor da USC, Evaldo Antonio Kuiava. Nuhs entregou a Bolsonaro uma espécie de troféu com o modelo de pistola de grafeno que, segundo o chefe da Taurus, será uma “revolução” no mercado de armas de fogo.
Salesio Nuhs deu ainda um revólver calibre 38 de presente ao 38º presidente da República: “esse aqui é seu, presidente trezoitão”.
Com a pós-graduação brasileira arrasada pelo “presidente trezoitão”, o cientista que tomar ciência da dobradinha, toda trabalhada no grafeno, entre universidades privadas e o vil metal da indústria armamentista, este pesquisador se lembrará num estalo não de algum sermão de Vieira, mas de um romance de Faulkner: “enquanto agonizo”.
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