Nesta quarta-feira, 21, na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, na sabatina do novo ministro do STF, senadores do PL afetaram escândalo com a proximidade de Cristiano Zanin com Lula: “e a independência do Judiciário?”, diziam, com níveis de razão cínica a níveis da radiação de Chernobyl.
Alguns dos senadores do PL que sabatinaram Zanin nesta linha são ex-ministros de Jair Bolsonaro, que passou quatro anos ameaçando ministros do STF e que indicou dois ministros do Supremo sob o critério de serem terrivelmente obedientes. Alguns desses senadores participaram da reunião ministerial de 22 de abril de 2020, na qual se falou em “botar esses vagabundos todos – os 11 ministros do STF, antes das indicações de Kassio Nunes Marques e André Mendonça – na cadeia”.
No momento em que Zanin era sabatinado, surgiu na imprensa a informação de que a cúpula do PL havia decidido em reunião ameaçar Nunes Marques e sua família na véspera do julgamento da inelegibilidade de Bolsonaro no TSE.
Nunes Marques vota, e a cúpula do PL teria decidido mandar o “recado” de que se votar contra Bolsonaro “ele vai ficar impedido de andar nas ruas, impedido de frequentar restaurantes com a família dele, dificuldade de pegar avião sem ser incomodado e vai ter uma avalanche de ataques nas redes sociais”.
Da reunião teria participado o próprio Bolsonaro, Valdemar Costa Neto e o general Walter Souza Braga Netto.
Sendo verdade esse bilhete, trata-se de mais um general ameaçando um tribunal superior na véspera de um julgamento com nevrálgicos desdobramentos eleitorais, cinco anos depois de o general Eduardo Villas Bôas, então comandante do Exército, entrar de coturno do lawfare contra Lula ao ameaçar o STF horas antes de um julgamento que poderia pôr Lula nas eleições de 2018.
Quando o general Villas Bôas mandou, via Twitter, um “recado” a Rosa Weber, que seria o fiel da balança e tinha o voto estava indefinido, outro general, Paulo Chagas, respondeu ao tuíte dizendo que tinha “a espada ao lado, a sela equipada, o cavalo trabalhado”. Agora, a imprensa dá conta de que a cúpula do Pl ameaça Nunes Marques com “a espada do bolsonarismo”.
No Brasil, se um juizeco de primeira instância espirra e um Zé Ninguém não diz “saúde”, arrisca terminar como o morador de rua que teve mãos e pés amarrados pela polícia de São Paulo. A notórios golpistas, porém, tudo está autorizado, e não é de hoje. Inclusive ameaçar, digamos, a saúde de juízes de tribunais superiores; inclusive seguir tentando golpear.