Alvo com o rosto de Lula no Clube de Tiro Mil Armas, em Nova Iguaçu (Foto: Simon Widner/Tages-Anzeiger).

Aconteceu na última quarta-feira, 15, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, a maior apreensão de armas de fogo já feita pela Polícia Federal no Rio de Janeiro. Foi no âmbito da operação Desarmada da PF, levada a cabo com apoio do Exército e contra o comércio ilegal de material bélico.

Foram 80 armas de uso restrito apreendidas em duas lojas especializadas, mas cujos registros para comercializar armas, acessórios e munições estavam suspensos. Das 80 armas, 68 são fuzis. Quatro pessoas foram presas – um dos donos e três funcionários.

A Polícia Federal não divulgou nomes, nem das lojas, nem dos presos, citando apenas que um deles é policial federal aposentado. A equipe do blog da Andréia Sadi, porém, apurou que o policial federal aposentado preso se chama Marcelo da Costa Barros, que, segundo o blog, “terá de explicar ao Exército onde está a documentação das armas apreendidas”, já que os processos de compra dos fuzis não foram encontrados.

Come Ananás apurou que um policial federal aposentado chamado Marcelo da Costa Barros é dono das empresas Mil Armas Clube e Estande de Tiro Ltda e Mil Armas Comércio de Armas e Munições Ltda. As duas funcionam no Centro de Nova Iguaçu, com um estande de tiro e duas lojas de armas.

Alvo, portanto, da operação Desarmada da Policia Federal, o “grupo” Mil Armas, por seu turno, usou pelo menos durante o período eleitoral do ano passado a imagem de Luis Inácio Lula da Silva como alvo balístico em seu estande de tiro iguaçuano. Há poucos meses, o jornal suíço Tages-Anzeiger publicou fotos desse alvo. As fotos foram feitas pelo repórter Simon Widner às vésperas do segundo turno das eleições 2022.

Em uma delas, um instrutor do clube de tiro Mil Armas que se intitula “o mago da recarga” exibe com uma das mãos, sorridente, o alvo, que parece perfurado. Com a outra, segura uma pistola. É possível ver no canto inferior esquerdo do alvo um campo para ser preenchido com o nome do atirador. “A gente vive brincando com o Lula aqui”, disse o homem à reportagem do Tages-Anzeiger.

Foto: Simon Widner/Tages-Anzeiger.

O nome do brincalhão é Rogério Cataldo de Cusatis Júnior, tenente da reserva do Exército Brasileiro e suplente do conselho deliberativo da seccional fluminense da Associação dos Oficiais da Reserva do Exército.

Laudo psicológico incluso

Também às vésperas do segundo turno das eleições do ano passado, no dia 22 de outubro, um sábado, o Mil Armas promoveu um combo de “adesivaço” com tiro em prol da campanha de Jair Bolsonaro: “22 de Outubro, adesivaço no Estande de Nova Iguaçu. Venha com a sua camisa do Brasil ou camisa verde/amarela. Você que não é sócio, aproveite a oportunidade. Não cobraremos taxa de Day Use nesse sábado. Aguardamos todos vocês e vamos rumo à vitória no dia 30!”.

No ano passado, Marcelo da Costa Barros, o dono do “grupo” Mil Armas, foi candidato a deputado estadual pelo União Brasil. Marcelo amealhou apenas 1.154 votos e não conseguiu se eleger, apesar de ter alguma capilaridade na Baixada: além das duas lojas de armas e do estande de tiro em Nova Iguaçu, o Mil Armas mantém um estande de tiro também em Piabetá, bairro que tem o maior cartório eleitoral do município de Magé.

Come Ananás apurou que a esposa de Marcelo Costa, a psicóloga Magda Araújo Barros, tem quatro consultórios no estado do Rio credenciados pela Polícia Federal para emitir laudos psicológicos atestando aptidão para manuseio de armas de fogo. Dois dos consultórios de Magda estão na capital, um em Nova Iguaçu e o quarto justamente em Piabetá.

O consultório de Magda Araújo Barros em Nova Iguaçu fica na rua Venina Torres 23, sala 401. Uma das lojas do “grupo” Mil Armas em nova Iguaçu fica na rua Venina Torres 23, sala 403. Na receita federal, Magda consta como sócia de Marcelo na empresa Mil Armas Clube e Estande de Tiro, que oferece um pacote de serviços de despachante, com laudo psicológico incluso, para postulantes ao Certificado de Registro de Arma de Fogo.

‘Tacabala’

Outro instrutor de tiro da Mil Armas é João Bercle, um ex-fuzileiro naval que vende macacões para bebês com temática armamentista, numa loja online chamada “tacabala”, e que participou da concentração golpista na frente do Comando Militar do Leste, no Centro do Rio, após as eleições.

Recentemente, logo após os ataques terroristas de 8 de janeiro em Brasília, João Bercle postou em uma rede social uma imagem da bandeira do Brasil em preto e branco acompanhada dos dizeres: “Até logo. E quando a guerra começar, eu volto”.

Por falar em guerra, a loja Mil Armas oferece à clientela artigos como o rifle semiautomático estadunidense Saint M-Lok AR-15, da Springfield Armory. Sai por R$ 25,5 mil e não é brincadeira não.

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