General Carlos de Meira Mattos.

Em janeiro de 2007, quando complicações de uma cirurgia no abdome deram cabo de um dos formuladores da política externa da Ditadura, o general Carlos de Meira Mattos, aos 97 anos de idade, a Folha de S.Paulo noticiou que tinha morrido “um especialista em geopolítica”.

Este é o general Meira Mattos exibindo seu conhecimento em geopolítica, décadas antes da ascensão do bolsonarismo militar: “a Funai está contaminada pela tese internacionalista”.

A frase está na apresentação, escrita por Meira Mattos, do livro “A farsa ianomâmi”, da lavra do coronel Carlos Alberto Menna Barreto e editado em 1995 pela Editora da Biblioteca do Exército. A edição do livro foi feita no âmbito da reação do Exército à demarcação da terra indígena ianomâmi no governo Collor.

O livro, até hoje estudado pelos aspirantes a oficiais do Exército Brasileiro, nega a própria existência dos indígenas ianomâmis, mas não apenas. Come Ananás mostrou nesta quarta-feira, 25, que o coronel Menna Barreto e quem o editou negavam o genocídio ianomâmi já em 1973, quando a Ditadura começou a dizimar indígenas no antigo território federal de Roraima.

Na apresentação do livro do coronel, escreveu ainda o general que “a questão ianomâmi, como é apresentada pelos interesses alienígenas, clama contra a lógica e o bom senso”.

E, no final, Carlos de Meira Mattos saudou o autor, que, segundo ele, deu “o seu grito de protesto contra a farsa que se armou em torno da questão ianomâmi”, ferido que estava “na sua sensibilidade de brasileiro patriota”…

Em 2012, a Força Terrestre extinguiu o seu Centro de Estudos Estratégicos e criou um instituto para abrigar toda a pós-graduação e pesquisa em Ciências Militares e Estudos de Defesa da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército.

Nascia o Instituto… Meira Mattos.

Na vida, na ditadura, no ensino militar

“Por que Meira Mattos? O General Meira Mattos é exemplo de soldado e acadêmico, da conciliação de duas competências simbólicas para os propósitos do instituto”, explicou, na época, o primeiro chefe do Instituto Meira Mattos, general Richard Nunes, que mais tarde seria secretário de Segurança do Rio de Janeiro na intervenção comandada pelo general Braga Netto e hoje é chefe do Comando Militar do Nordeste.

O próprio Carlos de Meira Mattos também foi interventor, no estado de Goiás, em novembro de 1964, quando seu amigo Humberto Castello Branco determinou a destituição do governador Mauro Borges por “subversão”.

Quando Castello Branco fechou o Congresso Nacional, no dia 20 de outubro de 1966, coube a Carlos de Meira Mattos, na época coronel, comandar cabos e soldados na desocupação. Consta que o deputado Adauto Lúcio Cardoso (Arena), então presidente da Câmara dos Deputados, disse a Meira Mattos naquele dia: “o senhor preste continência a mim, que eu represento o Poder Civil!”, no que o coronel teria respondido, de bate-pronto: “pois eu represento o Poder Militar”.

A Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, que abriga o Instituto Meira Mattos, é conhecida também como Escola… Marechal Castello Branco.

Um arrepio a mais

Carlos “farsa ianomâmi” de Meira Mattos foi patrono também da turma de 2013 da Academia Militar das Agulhas Negras. Naquele ano, o comandante da Aman era o general Tomás Ribeiro Paiva, hoje comandante do Exército.

Na cerimônia de formatura da Turma General Carlos de Meira Mattos, o então ministro da Defesa do Brasil, Celso Amorim, tentou lembrar a mais de 400 cadetes da Aman que a carreira escolhida por eles era de devoção ao Estado e de defesa das instituições democráticas.

Entre os desafios que esperavam os futuros oficiais do Exército, ressaltou Amorim naquele dia, estava a tarefa de se fazer presente na faixa de fronteira brasileira com os vizinhos sul-americanos.

“Há locais em que a presença do Exército é a própria presença do Estado Brasileiro”, disse Celso Amorim, no pátio da Aman, aos formandos da Turma General Carlos de Meira Mattos.

Arrepiam as crianças ianomâmis entubadas em Boa Vista por pneumonia causada pela fome, por fome causada pelo Partido Militar.

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