Generais Braga Netto, Richard Nunes e Villas Bôas.

Marielle Franco e Anderson Gomes foram mortos há exatos cinco anos, no dia 14 de março de 2018, menos de um mês após o início da intervenção federal no Rio de Janeiro decretada por Michel Temer. Menos de um ano depois, no dia 11 de janeiro de 2019, pouco após o fim da intervenção, o general-interventor Braga Netto disse o seguinte à revista Veja sobre o porquê do assassinato de Marielle: “aquilo foi uma má avaliação deles. Avaliaram mal, acharam que ela é um perigo maior do que o que ela era”.

“Um perigo para quem?”, perguntou, estupefato, o repórter Leandro Resende. “Não vou entrar nesse mérito”, fechou-se, impávido, o general.

Braga Netto não respondeu àquela pergunta, nem naquela feita, nem até hoje. Porém, semanas antes da entrevista do general à Veja, o também general Richard Fernandez Nunes, braço direito de Braga Netto na intervenção, já tinha dado o caminho das pedras – ou de Rio de Pedras.

No dia 14 de dezembro de 2018, também numa entrevista à imprensa – ao jornal O Estado de S.Paulo -, o general Richard Nunes afirmou que Marielle Franco foi morta porque foi percebida como um risco a negócios milicianos relacionados à grilagem de terras na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

“Como ela colocaria em risco?”, perguntou o repórter Marcelo Godoy.

“A milícia atua muito em cima da posse de terra e assim faz a exploração de todos os recursos. E há no Rio, na área oeste, na baixada de Jacarepaguá problemas graves de loteamento, de ocupação de terras. Essas áreas são complicadas”, respondeu o general.

“A atuação dela seria de fazer…”, insistiu o repórter.

“Uma conscientização daquelas pessoas sobre a posse da terra. Isso causou instabilidade e é por aí que nós estamos caminhando. Mais do que isso eu não posso dizer”, disse Richard Nunes, encerrando o assunto para até hoje nunca ter voltado a ele.

Em abril de 2020, início de pandemia, o Intercept Brasil publicou uma reportagem cujo teor, até hoje, cinco anos após a execução de Marielle Franco, não recebeu a atenção merecida, sobretudo à luz do que disseram, lá atrás, o general Braga Netto sobre “eles avaliaram mal” e o general Richard sobre a motivação miliciano-imobiliária da execução de Marielle.

Naquela reportagem, o Intercept Brasil publicou informações sigilosas de um inquérito do Ministério Público do Rio segundo o qual Flávio Bolsonaro lucrou com a construção ilegal de prédios erguidos pela milícia em áreas griladas em Rio das Pedras e na Muzema e financiados com dinheiro das rachadinhas de Flávio na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.

Rio das Pedras, rio da História

Ao arrepio da Constituição, a intervenção federal no Rio de Janeiro foi, na prática, uma intervenção militar, levada a cabo no âmbito da tutela que os militares passaram a exercer sobre o governo Temer – a rigor, sobre a política brasileira – após o caso Joesley Batista, em 2017. O chefe da tutela era o chefe do Exército, general Eduardo Villas Bôas.

Dez dias após o início da intervenção, pela primeira vez um militar, o general Silva e Luna, assumiu o Ministério da Defesa. Menos de dois meses após o início da intervenção, Villas Bôas ameaçou publicamente o Supremo Tribunal Federal, na véspera do julgamento do Habeas Corpus preventivo que poderia colocar Lula nas eleições 2018.

Acovardado, o Supremo se acumpliciou com a conspiração judiciário-midiática-militar para tirar Lula da disputa. O Partido Militar montou o cavalo encilhado que passou e voltou ao poder. Como dizem os gaúchos, cavalo encilhado não passa duas vezes.

Quando Villas Bôas passou o comando do Exército, nos primeiros dias do governo Bolsonaro, o general disse na cerimônia que “três personalidades se destacaram para que o rio da História voltasse ao seu curso normal. O Brasil muito lhes deve”.

Referia-se a Jair Bolsonaro, Sérgio Moro e Braga Netto.

“Todos demonstraram que nenhum problema no Brasil é insolúvel”, disse na ocasião o necromante do golpismo de coturno e pai do bolsonarismo militar .

O ministro da Justiça, Flavio Dino, prometeu solucionar o caso Marielle. É difícil imaginar uma investigação a fundo, à vera, do caso Marielle, para descobrir quem mandou matar Marielle, sem chamar às falas os generais Braga Netto, Richard Nunes e Villas Bôas.

Será feito?

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