No dia 12 de janeiro, horas após começar a circular a informação de que a Polícia Federal havia encontrado uma minuta de decreto de Estado de Defesa no TSE, Come Ananás chamou atenção para que a existência desta minuta muito provavelmente explicava a cena do general Walter Souza Braga Netto dizendo a golpistas (e líderes de bloqueios nas estradas), na porta do Palácio do Alvorada, que “vocês não percam a fé. É só o que eu posso falar pra vocês agora”.
Isto foi no dia 19 de novembro. Um dia antes, no dia 18, o Metrópoles publicou a informação de que o imóvel onde funcionou o comitê de campanha de Jair Bolsonaro em Brasília havia se transformado, após as eleições, em um “QG do golpe” comandado por Braga Netto.
Um dos veículos que esteve no “QG do golpe” foi localizado pela reportagem do Metrópoles, no mesmo dia, mais tarde, estacionado no acampamento golpista montado na frente do QG do Exército, em Brasília.
É consenso entre os analistas políticos mais sérios que Braga Netto foi o comandante de fato do Exército brasileiro desde que assumiu o Ministério da Defesa, em março de 2021, e mesmo após deixar o cargo, um ano depois, para ser candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro.
O Exército brasileiro, dez dias antes da fala de Braga Netto na frente do Alvorada, havia apresentado um relatório produzido por militares das três Forças sorrateiramente não descartando a possibilidade de fraude eleitoral – “inconclusivo para a detecção de eventuais anomalias no funcionamento das urnas”. O que seria conclusivo? Um Estado de Defesa no TSE?
Nesta quarta-feira, 18, a CNN Brasil noticiou que, segundo apuração da emissora, a minuta do golpe seria resultado de reuniões lideradas por Braga Netto em Brasília após as eleições para discutir “alternativas para tentar reverter o resultado eleitoral”.
Quem, além da família Bolsonaro, teria motivos para arriscar tudo, apostar todas as fichas, numa tentativa de golpe de Estado para manter-se a salvo, sob a blindagem do poder, de investigações sobre o que foi feito em verões passados?
No verão de 2019, mais precisamente no dia 11 de janeiro daquele ano, pouco depois de encerrada a intervenção federal chefiada por Braga Netto no Rio de Janeiro, o general disse o seguinte à revista Veja sobre o porquê do assassinato de Marielle Franco, que foi morta logo no início da intervenção, em março de 2018: “aquilo foi uma má avaliação deles. Avaliaram mal, acharam que ela é um perigo maior do que o que ela era”.
“Um perigo para quem?”, perguntou, estupefato, o repórter Leandro Resende, da Veja. “Não vou entrar nesse mérito”, fechou-se, impávido, o general.
Braga Netto não respondeu à pergunta, nem naquela feita, nem até hoje, mas o também general de exército Richard Fernandez Nunes, braço direito de Braga Netto na intervenção, já havia respondido, menos de um mês antes, também numa entrevista à imprensa.
No dia 14 de dezembro de 2018, numa entrevista jornal O Estado de S.Paulo, o general Richard afirmou que Marielle Franco foi morta porque foi percebida como uma ameaça a negócios milicianos de grilagem de terras na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Em abril de 2020, início de pandemia, o Intercept Brasil publicou uma reportagem à qual até hoje, passado o pior da covid-19, não se deu a merecida atenção, se não por mais nada, pelo que disse, lá atrás, o general Braga Netto sobre “eles avaliaram mal” e especialmente pelo que falou o general Richard Nunes ao Estadão sobre a motivação miliciano-imobiliária da execução de Marielle Franco.
Naquela reportagem, o Intercept Brasil publicou informações sigilosas de um inquérito do Ministério Público do Rio segundo o qual Flávio Bolsonaro lucrou com a construção ilegal de prédios erguidos pela milícia em áreas griladas em Rio das Pedras e na Muzema e financiados com dinheiro das rachadinhas de Flávio na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.
Não nos esqueçamos que nos primeiros dias do governo Bolsonaro o general Eduardo Villas Bôas, quando passou o comando do Exército, disse que “três personalidades se destacaram para que o rio da História voltasse ao seu curso normal. O Brasil muito lhes deve”.
Referia-se a Jair Bolsonaro, Sérgio Moro e Braga Netto.
“Todos demonstraram que nenhum problema no Brasil é insolúvel”, disse Villas Bôas, necromante do golpismo de coturno e pai do bolsonarismo militar.
Deve existir em Brasília, malocada em algum armário, pelo menos uma outra minuta feita para resolver um “problema no Brasil”: a do acobertamento.
Quer dizer, então que entre o pesoal que destruiu os prédios dos três poderes havia infiltrados profissionais que foram lá só para roubar documentos e provas documentos?
Onde se encontram os relatórios da intervenção no Rio em 2018 sob o comando de Braga neto ??? Eu Será que estão no sigilo de 100 anos???