Com seus decretos armamentistas e chamamentos para que “tem que comprar fuzil, pô”, Jair Bolsonaro logrou multiplicar por seis o número de CACs (Colecionadores, Atiradores e Caçadores) no Brasil e, em dobradinha com o Exército Brasileiro, engrossou, em quantidade e calibre, o arsenal desta “categoria”.
Uma espiada mais de perto nos dados sobre a farra do berro e do pipoco promovida pelo governo passado mostra que o Brasil viveu, especialmente e perigosamente, uma verdadeira corrida armamentista civil no segundo semestre do ano passado – uma corrida associada, portanto, ao calendário eleitoral.
O número de colecionadores de espingardas, atiradores ditos esportivos e caçadores de javalis passou de 117 mil em 2018 para 813 mil no final de 2022. Trata-se de um aumento de quase 600%. O Brasil “ganhou” nada menos que 140 mil desses 696 mil novos CACs só no segundo semestre de 2022 – o número era de 673 mil em 1º de julho do ano passado.
Foi também em julho do ano passado que o número de armas de fogo nas mãos dos CACs atingiu a marca de um milhão. De lá para cá, este dado também disparou, com ou sem trocadilho: foram 200 mil novas armas indo parar nas mãos do CACs num intervalo menor que um semestre. Hoje, os CACs têm um arsenal de 1,2 milhão de armas de fogo. Antes do governo Bolsonaro, o total era de 350 mil.
No ano passado, a média de registros de armas por CACs, que foi de 870 por dia entre janeiro e agosto, pulou para 2 mil por dia no período eleitoral – entre setembro e novembro.
Nesta segunda-feira, 13, os institutos Sou da Paz e Igarapé divulgaram um levantamento mostrando que o crescimento percentual de novas armas nas mãos de CACs cresceu 31% entre 2019 e 2020, 39% entre 2020 e 2021 e espantosos 58% entre 2021 e 2022.
Ao mesmo tempo, o Exército, responsável pelo controle dos arsenais dos CACs, simplesmente perdeu o controle dos arsenais dos CACs, ou deixou-se perder.
Também em 2022, deputados estaduais bolsonaristas, coordenados pelo Movimento Pró-Armas, conseguiram aprovar leis estaduais permitindo, além da posse, o porte de armas para CACs, em um “olé” na Constituição Federal.
Com a proximidade das eleições, lideranças armamentistas dobraram a aposta na associação entre armas e política, que vinham e ainda vêm fazendo, impunemente, chegando ao ponto de Eduardo Bolsonaro convocar os CACs a serem “voluntários” a serviço do seu pai entre o primeiro e segundo turnos das eleições 2022.
Agora, o CACs e suas lideranças estão espumando contra a determinação do governo Lula de cadastramento de suas armas na Polícia Federal, além de no Exército. Evocam o… Estatuto do Desarmamento. O estatuto, ao qual as lideranças CACs costumam se referir como “lei genocida”, teria, segundo eles, uma única coisa boa: justamente a suposta previsão de que os CACs precisam prestar contas de suas armas única e exclusivamente ao Exército de Caxias.
Parafraseando o que disse Leandro Konder sobre os fascistas, as verdades passaram a morrer na cruz da utilidade circunstancial que o cinismo dos CACs encontra para elas.