Está circulando fortemente nos canais bolsonaristas do aplicativo de mensagens Telegram um “Manual anti censura para o Telegram em smartphones”. O manual ensina a fazer o Telegram funcionar em aparelhos Android e iPhone mesmo se aplicativo for bloqueado no Brasil. Grande parte dos compartilhamentos foi feito a partir da conta do blogueiro Allan dos Santos, que tem 127 mil inscritos. Allan é foragido da Justiça brasileira. Ele está nos EUA, para onde fugiu com ajuda de Eduardo Bolsonaro.
Na última quinta, 24, o ministro Alexandre de Moraes deu 24 horas para o Telegram remover as contas de Allan dos Santos, sob pena de bloqueio, a princípio temporário, do aplicativo no Brasil. Até o início da manhã deste sábado, 26, com o prazo vencido, as contas de Allan dos Santos no Telegram continuavam ativas e o aplicativo seguia funcionando normalmente no país. Ao raiar deste sábado de carnaval, a deputada Bia Kicis postava conteúdo antiabortista na plataforma.
O manual ensina a manter o Telegram funcionando tanto se o aplicativo for removido da Play Store e da App Store quanto se os endereços de IP dos servidores do Telegram foram bloqueados, inviabilizando o uso da ferramenta em sua versão web (direto no navegador). Neste caso, o manual orienta a usar canais de proxy fornecidos pelos próprio Telegram combinados com uma rede VPN e o navegador Tor, que permite navegação anônima e acesso à deep web.
Na noite desta sexta, 25, Allan dos Santos publicou em seu canal no Telegram um áudio em que disse: “Alexandre de Moraes, se você mandar derrubar este canal, eu crio outro, eu crio outro, eu crio outro, eu crio outro. Enfia o dedo no cu e rasga, mas eu não vou apagar porra nenhuma”.
A circulação do “Manual anti censura para o Telegram em smartphones” indica que o STF e o TSE, mesmo se derem passos concretos para enquadrar o Telegram, podem ter dificuldades para frear a rede bolsonarista de notícias falsas, discursos de ódio e canais neofascistas que se desenvolveu na plataforma.
Um dos canais do Telegram que compartilharam o manual a partir do canal de Allan dos Santos foi o “Bolsonaro 2022”, que tem 24 mil membros.
Outro foi o “Ucraniza Brasil”. Com milhares de membros, o grupo tem como imagem de perfil uma bandeira preta e vermelha com o brasão de armas da Ucrânia. Essa bandeira é usada por grupos neonazistas ucranianos e foi usada por manifestantes pró-Bolsonaro em 2020 na Avenida Paulista.
Uma das discussões em curso no canal “Ucraniza Brasil” é sobre quem é mais “globalista”: Putin ou Biden.