Os dois homens ligados à deputada Carla Zambelli que fizeram pagamentos para o hacker Walter Delgatti Neto ganharam cargos nos gabinetes da deputada, na Câmara, e do seu irmão, Bruno Zambelli, na Alesp, após a efetuação dos depósitos.
Jean Hernani Guimarães Vilela de Sousa e Renan Cesar Silva Goulart fizeram pagamentos para Delgatti, de suas contas pessoais, entre novembro do ano passado e fevereiro deste ano. Jean Hernani depositou R$ 3 mil para o hacker no dia 9 de novembro. Ele afirma que o pagamento foi a entrada por um serviço técnico para o site de Zambelli. O serviço, segundo ele, não chegou a ser feito. Renan Cesar fez três depósitos para Delgatti entre os dias 24 e 28 de fevereiro, totalizando R$ 10,3 mil. À Polícia Federal, ele disse que comprou uísques do hacker de Araraquara.
Em maio, Jean Hernani e Renan Cesar foram nomeados quase que simultaneamente para os gabinetes dos irmãos Zambelli. Jean foi nomeado secretário parlamentar de Carla Zambelli no dia 17 de maio. Renan virou assistente parlamentar de Bruno Zambelli oito dias depois, em 25 de maio. As datas constam na decisão de Alexandre de Moraes que autorizou busca e apreensão em endereços de Carla Zambelli, Jean Hernani e Renan Cesar, no início de agosto. As remunerações líquidas de Jean e Renan a serviço dos irmãos Zambelli também são quase idênticas, em torno de R$ 5.200.
Apesar de não estarem empregados nos gabinetes de nenhum Zambelli no momento em que pagaram ao hacker, tanto Jean Hernani quanto Renan Cesar já tinham ligações com a deputada. Jean é marido da sócia única de uma empresa de marketing digital que presta serviço de divulgação de atividade parlamentar para o gabinete de Carla Zambelli. A empresa, porém, leva o nome do próprio Jean Hernani e são o telefone e o e-mail de Jean que constam no cadastro da firma na Receita Federal. Já Renan Cesar trabalhou no gabinete de Zambelli em 2019.
Walter Delgatti disse à Polícia Federal e à CPMI do 8/1 que recebeu R$ 40 mil de Carla Zambelli para invadir o sistema informático do Conselho Nacional de Justiça, no âmbito de uma triangulação entre o hacker, a deputada e o ex-presidente Jair Bolsonaro para tentar desacreditar o sistema brasileiro de votação eletrônica. Delgatti afirma ainda que, assim como Carla, Bruno Zambelli também estava presente quando o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, recebeu-o em Brasília.
Carla Zambelli diz que contratou o hacker em novembro, logo após as eleições, apenas para fazer “a ligação das redes sociais minhas através do meu site”.
No dia 4 de agosto, Come Ananás mostrou que em dezembro a Hernani Filmes e Marketing Digital, empresa da esposa de Jean Hernani, recebeu R$ 40 mil do gabinete de Carla Zambelli para produzir conteúdo para as redes sociais da deputada. As redes sociais da deputada, porém, estavam bloqueadas desde novembro, por decisão do TSE, e assim ficaram até fevereiro.
Neste período em que seus perfis estavam bloqueados, Carla Zambelli pagou a quatro empresas diferentes um total de R$ 92 mil em “edição de vídeos” para as redes sociais. O montante é maior, por exemplo, do que o total de verba usada por Carla Zambelli para “divulgação da atividade parlamentar” em todo o ano de 2021.
O período em que Carla Zambelli bateu recordes de gastos com vídeos e outros conteúdos para redes sociais, mesmo com seus perfis bloqueados, coincide com o intervalo em que teriam acontecido as ações criminosas envolvendo a deputada e o hacker Walter Delgatti.
Delgatti, segue espetando no prego e na ferradura…