Ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil).

Nesta quarta-feira, 15, o maior portal de notícias do país, o UOL, informou em título de reportagem de capa que “Ministro da Defesa pede reunião entre TSE e militares e acena com diálogo”.

Na verdade, desinformava.

A notícia se referia a um novo ofício enviado pelo ministro-general Paulo Sergio Nogueira ao presidente do TSE, Edson Fachin.

No ofício, Paulo Sergio volta escancaradamente à carga das ameaças bolsogolpistas para 2022, ao dizer que ou aqueles que Fachin chamou de “forças desarmadas” aceitam as “propostas” das Forças Armadas para as eleições, “entendidas como essenciais para fortalecer a segurança, a transparência, a confiabilidade e a auditabilidade do processo eleitoral”, ou estará comprometida “a construção de soluções que contribuam para o ambiente de paz e de tranquilidade da sociedade brasileira”.

Mas o UOL e o grosso da imprensa fiaram-se no trecho do ofício a Fachin no qual Paulo Sergio diz que “para que se possa dar concretude ao diálogo proposto, solicito a Vossa Excelência o agendamento de um encontro entre as equipes técnicas do Tribunal e das Forças Armadas”.

E noticiaram que Paulo Sergio “acena com diálogo”…

Não foi a primeira vez.

No último 3 de maio o Ministério da Defesa soltou a seguinte nota sobre uma reunião de poucas horas antes entre o ministro-general Paulo Sérgio Nogueira e o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux:

“Nesta terça-feira (3), o Ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, foi recebido pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Fux, na sede do Tribunal. Durante o encontro, foram discutidos temas institucionais, tal como o respeito entre as instituições. Também foi tratada a colaboração das Forças Armadas para o processo eleitoral. O Ministro da Defesa reafirmou, ainda, o permanente estado de prontidão das Forças Armadas para o cumprimento das suas missões constitucionais”.

A imprensa brasileira repercutiu a nota em tom positivo, fiando-se na expressão “o respeito entre as instituições”.

Constituição e ‘estado de prontidão’

É preciso ser muito ingênuo, alheio ou incompetente para supor que o general Paulo Sérgio foi até Luiz Fux acenar com “respeito entre as instituições”, em vez de ameaçar, avisar ou intimidar a mando de Jair Bolsonaro, com quem Paulo Sergio havia se reunido horas antes de ir ter com Fux, em meio a uma (mais uma) forte escalada, naquela semana, contra o Judiciário. Era um (mais um) aviso de golpe.

“O respeito entre as instituições”, no caso daquela nota, não era uma profissão de fé democrática das Forças Armadas. Não era um aceno, uma garantia. Era uma cobrança. Referia-se, na época já evidentemente, ao que semanas depois o general Paulo Sergio elaborou como “as Forças Armadas se sentem desprestigiadas pelo TSE”.

Além disso, a frase “o permanente estado de prontidão das Forças Armadas para o cumprimento das suas missões constitucionais” cairia perfeitamente bem num cartaz de manifestação golpista insuflada por Bolsonaro: é justamente evocando por tortíssimas linhas o artigo 142 da Constituição que Bolsonaro e bolsonaristas se esmeram dia e noite para meter as Forças Armadas num caminho ainda pior do que aquele no qual já estão enveredadas.

O máximo que alguns comentaristas de política da mídia mainstream ousaram foi dizer que a nota da Defesa era “dúbia”.

Eu, cordeiro

A nova carga do general Paulo Sergio sobre o TSE só foi possível porque Edson Fachin, em mais uma resposta de cordeiro – tentando placidamente chamar à razão o lobo decidido a devorá-lo -, abriu novamente o flanco à milicada desvairada, falando mais uma vez, o presidente do tribunal eleitoral, em “diálogo interinstitucional” com quem só faz tentar meter-lhe o coturno do pescoço.

Portanto, se a mídia corporativa não aprende nunca, o TSE não aprende jamais, mesmo após os militares usarem como usaram, para bagunçar o coreto, o convite a eles feito por Luis Roberto Barroso para a Comissão de Transparência Eleitoral; mesmo após Paulo Sergio não se dedicar a outra tarefa desde que assumiu a Defesa além de entrar de coturno na empreitada autogolpista do seu chefe.

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