George Washington de Oliveira Sousa na CPI do 8/1 (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado).

A Folha de S.Paulo conseguiu obter, via Lei de Acesso à Informação, o nome do senador que autorizou George Washington de Oliveira Sousa a assistir a uma audiência pública no Senado – uma audiência golpista – no dia 30 de novembro de 2022, 24 dias antes de George Washington tentar mandar um caminhão tanque pelos ares nas cercanias do aeroporto de Brasília.

Naquele 30 de novembro, George Washington teve acesso ao Anexo II, Ala Senador Nilo Coelho, Plenário nº 6 do Senado com autorização do senador Zequinha Marinho, do Pará, estado onde fica a cidade Xinguara, onde George Washington vive e de onde George Washington saiu, destemido, para lutar contra o “comunismo” no Distrito Federal.

Ao dar o nome do senador, a Folha informa que Zequinha Marinho é do Podemos. Porém, Zequinha era do PL de Jair Bolsonaro quando deu acesso a George Washington à mesma sala do Senado onde hoje acontece a CPI do 8/1, sala à qual o terrorista voltou nesta quinta, 22, desta vez como investigado. O senador deixou o PL no fim de maio alegando mudanças no regimento do partido que teriam enfraquecido os presidentes dos diretórios estaduais.

Foi ele, Zequinha Marinho, o candidato de Bolsonaro ao governo do Pará em 2022, fragorosamente derrotado por Helder Barbalho (MDB), que teve 70% dos votos no primeiro turno. Em agosto do ano passado, a Agência Pública mostrou que no governo Bolsonaro era a Zequinha que madeireiros, grileiros e garimpeiros que atuam na amazônia paraense, inclusive em Xinguara, recorriam para abrir portas em Brasília.

“‘Chama o Zequinha’ se tornou uma frase repetida por todos aqueles que buscam ajuda do senador que mais defende essas atividades”, contou a Pública.

Quando chegou ao Senado no dia 30 de novembro do ano passado, o bolsoterrorista George Washington de Oliveira Sousa fez como o agrobolsonarismo paraense faz quando quer destruir a Amazônia: “chama o Zequinha”. A rigor, não há tanta diferença assim entre o primeiro e os segundos, se é que há alguma, “no tocante” a tocar o terror.

Quando foi preso, George Washington ligou para duas pessoas: o empresário e político bolsonarista Ricardo Pereira Cunha e o fazendeiro Bento Carlos Liebl.

Ricardo Cunha é dono da loja de informática USA Brasil, que fica no centro de Xinguara. A conta bancária da USA Brasil foi a destinatária dos recursos arrecadados via Pix em uma campanha de financiamento de atos golpistas promovida por ruralistas do sul do Pará após o segundo turno das eleições de 2022, como mostrou o Repórter Brasil.

Um dos ruralistas que se engajaram na campanha foi o pecuarista e político bolsonarista Enric Juvenal da Costa Lauriano, que participou presencialmente dos ataques terroristas do 8/1 na Praça dos Três Poderes. “Olha que lindo o povo tomando aqui”, disse Enric Lauriano em vídeo publicado no dia dos ataques em sua conta no Instagram.

Em outro vídeo, este de 23 de novembro, Enric Lauriano aparece em frente do QG do Exército dizendo que “a nossa barraca está aqui no local para dar suporte e estrutura para aqueles que chegarem. Não vamos arredar o pé até resolver essa situação que o Brasil está vivendo”.

Dr. Joel

Em Xinguara, Ricardo Cunha é visto como “uma espécie de braço-direito do Enric”. Cunha, porém, parece ser uma espécie de braço-direito de uma boiada de donos de bois do sul do Pará.

Em uma entrevista dada em 2021 a um canal local de Xinguara, Ricardo Cunha explicou o seu papel na organização de uma excursão da cidade para engrossar uma manifestação bolsonarista em Brasília em maio daquele ano, e na organização da direita bolsonarista em geral na região.

“Eu apareço porque sempre tem um mais na frente. Mas a gente tem um grupo aqui, o Direita Xinguara. A nossa direita aqui, tem pessoas por trás dela. A gente conseguiu um ônibus, muito luxuoso, inclusive, de dois andares, com televisão. Quatrocentos reais a passagem ida e volta e hotel no centro de Brasília com diária de R$ 50 a R$ 100, dependendo do conforto de cada quarto”.

Como o Repórter Brasil também já mostrou, o grupo Direita Xinguara reúne ricos fazendeiros golpistas.

“Tem o grupo de direita, que tem uns 200 membros. Só que aí eu participo de mais uns 20 grupos. Fora o da pecuária, que eu divulgo todo dia nele”, disse ainda Ricardo Cunha, referindo-se ao seu trabalho de agitação agrobolsonarista em grupos de WhatsApp.

Na mesma entrevista, Ricardo Cunha citou várias Fazendas e fazendeiros de onde vinha o financiamento para levar pessoas a Brasília – Fazenda Água Fria, Rio Maria, Zezinho Dantas, João Bueno. “Tem muita gente pesada”. O último listado por Cunha não é menos importante: “até o Dr. Joel, do sindicato, muitas vezes, assim, discreto, mas é um cara que apoia também, tá firme”.

Trata-se do criador de gado de corte Joel Carvalho Lobato, presidente do Sindicato Rural de Xinguara e vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Feapa).

Por fim, naquele dia, quem estava do outro lado da linha em um dos telefonemas dados por George Washington de Oliveira Sousa da prisão explicou o porquê de toda aquela agitação nos pastos sul paraenses:

“O nosso maior inimigo no Brasil se chama o sistema. Nós temos um sistema hoje que não é auditável. Você não tem certeza do voto que a pessoa apertou ali. Tem vários e vários vídeos de pessoas mostrando que a urna é fácil de manipular. Por mais que ela não esteja conectada, o sistema que já está nela é que vai fazer isso. Isso já foi provado. O meu medo se chama o sistema”.

Sob nova direção

Em 2022, Enric Lauriano foi primeiro suplente da candidatura do PP ao Senado, encabeçada por Flexa Ribeiro. Lauriano declarou à Justiça Eleitoral patrimônio de R$ 3,3 milhões. Ricardo Cunha foi candidato a deputado estadual no Pará pelo Pros. Nenhum dos dois se elegeu.

Em março deste ano, quando Zequinha Marinho ainda era do PL, o senador esteve em Xinguara junto com o deputado federal Delegado Caveira (PL-PA) para dar posse à nova direção do partido na cidade. O novo presidente do PL em Xinguara é Enric Lauriano. Ricardo Cunha também faz parte da nova diretoria.

Enric Lauriano, Zequinha Marinho, Delegado Caveira e Ricardo Cunha na posse da nova diretoria do PL em Xinguara, em março deste ano.

‘Chama o Pollon’

Segundo Ricardo Cunha, quando ele recebeu um telefonema de George Washington na madrugada do Natal do ano passado, o terrorista pediu para avisar à esposa de um outro deputado federal do PL, Marcos Pollon, que ele havia sido preso. Marcos Pollon é fundador do Movimento Pró-Armas, organização que é o braço CAC, por assim dizer, do bolsonarismo e tem “perigosas conexões com o agronegócio”. O PL do Mato Grosso do Sul, estado dito “celeiro do Brasil”, também está de presidente novo: Marcos Pollon.

George Washington saiu de Xinguara rumo a Brasília com R$ 170 mil em armas de fogo e munições na caçamba de uma caminhonete de R$ 30o mil.

Em um vídeo recente, de 20 de junho, no qual Enric Lauriano se apresentou como pré-candidato do PL à prefeitura de Xinguara, o pecuarista que montou uma barraca na frente do QG do Exército para dar estrutura e suporte a terroristas ressaltou algo relevante sobre a cidade, além de George Washington, Pix golpista, braços-direitos, extrema-direita, “chama o Zequinha”, “chama o Pollon” e da nova diretoria do PL local:

“Qual é a cidade do Brasil que tem a quantidade de frigoríficos que Xinguara tem?”.

São quatro, por sinal, os frigoríficos da “capital do boi gordo do sul do Pará”.

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