No último dia 7 de junho, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, vestiu uma luva, um avental da Alta Genetics, empresa transnacional que é uma das líderes globais em inseminação artificial, e ele próprio, Zema, inseminou uma vaca de R$ 200 mil, a Majestade Cambaúvas, da raça Girolando.
A inseminação por Romeu Zema da vaca Majestade Cambaúvas aconteceu durante a edição de 2023 da Megaleite, maior feira de pecuária leiteira da América Latina, em Belo Horizonte. A Majestade Cambaúvas é uma das mais de 200 mil vacas já inseminadas no âmbito do programa Mais Genética, do governo mineiro, de melhoria da produtividade de rebanhos leiteiros do estado. Na feira, Zema recebeu dos donos de bois de Minas a Medalha do Mérito Girolando.
Dois meses depois, agora, no início de agosto, Romeu Zema voltou a lidar com vacas leiteiras, donos de bois e, de certa maneira – a maneira da extrema-direita – com genética. No último domingo, 6, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, Zema usou a seguinte alegoria para criticar a criação do Fundo Nordeste no âmbito da reforma tributária, reclamando que o Sul e o Sudeste “têm que contribuir sem poder receber nada”:
“Senão você vai cair naquela história do produtor rural que começa só a dar um tratamento bom para as vaquinhas que produzem pouco e deixa de lado as que estão produzindo muito”.
Até que se prove o contrário, e ainda que Romeu Zema não pare de produzir provas contra si neste sentido, o programa Mais Genética do governo de Minas Gerais nada tem a ver com o programa do Terceiro Reich para ressuscitar o bisão europeu, símbolo de “força” e “pureza”, usando genes de descendentes domesticados do animal extinto no século XVII. Tampouco a Megaleite tem a ver com simbolismos de supremacia racial, mas apenas com o fato de que Minas é o maior produtor de leite do Brasil.
Porém, ninguém pode classificar seres humanos como “vaquinhas que produzem pouco”, além de tecer considerações sobre este ou aquele tratamento que se deveria dispensar ao objeto do vil cotejo, sem causar tremores na sepultura de Clemens August von Galen, o bispo de Münster que desafiou Hitler em plenas eugenia e repressão nazistas.
Em uma homilia de 3 de agosto de 1941, Clemens von Galen se insurgiu contra a dizimação daqueles que não eram “considerados produtivos pelos outros”; dos “que no processo produtivo empenharam suas forças, seus ossos saudáveis sacrificados e os perdidos”; de todo aquele que os nazistas tentavam desumanizar, classificando-o como “uma vaca que não dá mais leite”.
“Não se trata de cavalos e vacas. Trata-se de seres humanos, nossos semelhantes, nossos irmãos e nossas irmãs”, disse naquele dia o “Leão de Münster”.
Meses depois, a homilia de Clemens von Galen de 3 de agosto de 1941 foi espalhada por aviões aliados sobre a Vestfália. Agora, poderia ser espalhada também pelo menos no Vale do Jequitinhonha.
O bispo von Galen foi uma das principais vozes na Alemanha contra o programa do führer do Terceiro Reich, Hitler, para eutanásia de pessoas ditas “improdutivas”, de “vidas que não mereciam ser vividas”, o Aktion T4.
Sobre a comparação de nordestinos a “vaquinhas que produzem pouco”, feita por Romeu Zema, analistas de política vêm dizendo que ela denota a intenção do governador de Minas Gerais de recolher dos esgotos os votos do bolsofascismo, visando uma provável candidatura de Zema ao Palácio do Planalto em 2026.
Qual seria o programa do führer das lojas Zema para o Brasil?