No último 23 de agosto, o presidente da CPMI do 8/1, deputado Arthur Maia (União-BA), reuniu-se com o comandante do Exército, general Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, no Forte Apache, e saiu de lá com o script da Operação Anistia na ponta da língua, dizendo que a CPMI precisava separar atitudes isoladas de “alguns militares” do comportamento das Forças Armadas enquanto instituição.
Entre esses “alguns militares” que fomentaram o golpismo estiveram, ora, os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica no fim do governo Bolsonaro. Esta é mais uma verdade impiedosamente sacrificada na cruz do cinismo bolsonarista, mas também de José Múcio Monteiro, integrante do governo Lula.
Coesos, o general Freire Gomes, o almirante Almir Garnier e o brigadeiro Baptista Junior moveram uma guerra contra a credibilidade das urnas eletrônicas, acalentaram os acampamentos golpistas e deliberaram sobre aderir ou não aderir a um golpe de Estado, avaliando cenários e pesando riscos, como quem decide entre comprar milhões de latas de leite condensado ou R$ 3,5 milhões em próteses penianas.
Desde antes do começo da CMPI do Golpe, o presidente da CMPI do Golpe já dizia que não estava convencido de que houve tentativa de golpe no Brasil entre 2022 e 2023, apesar da imposição dos fatos.
Agora, Arthur Maia parece ter sido convencido, isto sim, após a reunião com Tomás Paiva, a atuar como oficial subalterno, primeiro-tenente da Operação Anistia, embarreirando, na CPMI, depoimentos de militares-chave na construção golpista, nomeadamente o do almirante Garnier, que teria até colocado tropas à disposição para um golpe à moda antiga, e os dos generais Paulo Sergio, ex-ministro do Ataque às Urnas, e Braga Netto, ninguém menos que o comandante do “QG do golpe” montado em Brasília após as eleições.
Animado com a patente, por assim dizer, Arthur Maia chegou a impedir um jornalista, o fotógrafo Lula Marques, de trabalhar no plenário da CPMI.
Nesta terça-feira, 3, após ser questionado pelo deputado Rogério Correia (PT-MG) sobre o segundo cancelamento consecutivo do depoimento de Braga Netto, foi afetando irritação, e sob a justificativa de “defender a minoria”, que Arthur Maia botou em votação de forma autoritária, ao arrepio do regimento, a convocação à CPMI de um coronel bolsonarista da Força Nacional disposto a alimentar na comissão – e, portanto, nas redes sociais – a fantasia de que o governo Lula armou uma tentativa de golpe contra si próprio.
O requerimento foi rejeitado. O primeiro-tenente da Operação Anistia sabia que assim seria. A intenção era apenas atiçar novamente o fuzuê sobre a Força Nacional, empurrando para o plenário um requerimento malandro para que fosse previsivelmente rejeitado, e com isso pretendendo justificar, na outra mão, o estancamento da sangria verde-oliva, em nome de se “preservar as instituições democráticas”.
Logo após o fuzuê, a Folha de S.Paulo já cravava que “CPI do 8/1 trava na reta final e deve acabar sem ouvir mais militares”.
Se Arthur Maia não enxerga ou diz que não vê a realidade, ou seja, a tentativa de viabilizar um golpe de Estado no Brasil via decretação de GLO, é porque não quer. Diferentemente, Arthur Maia não viu o golpe de 1º de abril porque não pôde. Arthur de Oliveira Maia nasceu em Salvador, na Bahia, no dia 17 de agosto de 1964, quando o general Castello Branco tinha acabado de completar quatro meses como ditador.
No dia seguinte ao parto do menino Arthur, em 18 de agosto de 1964, era publicada a seguinte nota na coluna Carlos Swann, no Globo, sobre um bastidor de uma visita do general Castello Branco à terra do primeiro-tenente Maia:
“Na Bahia, alguém perguntou ao presidente Castelo Branco se tinha alguma coisa a declarar ante o fato de dizer o Sr. Júlio Mesquita que seu governo era um governo que não via a realidade. O Presidente, com um ar compenetrado, limitou-se a responder: ‘se eu não vejo as coisas como são, o Dr. Mesquita que me ilumine, o governador Carlos Lacerda que me esclareça, e Deus que não me desampare’. Esta resposta, ouvida por várias pessoas, não sei porque não saiu publicada em local algum”.
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