Semanas após participar da matança de 26 pessoas na favela carioca da Vila Cruzeiro, fazendo as vezes de esquadrão da morte, e matar um homem numa câmara de gás improvisada em Sergipe, à moda nazi, a Polícia Rodoviária Federal fez questão de participar também, ainda que tardiamente, da chacina de maio de 2021 no Jacarezinho, vulgo “operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro”.
Nesta quarta-feira, 29, agentes da PRF apareceram na primeira audiência do único julgamento relativo à chacina de 28 pessoas no Jacarezinho que a Justiça brasileira se dignou a levar a cabo. No melhor estilo Ku Klux Klan, a fim de intimidar testemunhas, os agentes da PRF entraram no tribunal junto com vários agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil do Rio de Janeiro (Core), que usavam roupas de combate, camufladas. Ao todo, eram mais de 30, os intimidadores.
A Core, unidade dos “caveiras” da Polícia Civil fluminense, foi a unidade responsável pela chacina de maio do ano passado no Jacarezinho. Nesta quarta, o juiz Daniel Werneck Cotta suspendeu a maior parte das medidas cautelares que haviam sido impostas aos dois policiais da Core levados a julgamento por homicídio e fraude processual, como o afastamento de todas as atividades externas da Polícia Civil. Agora, eles podem voltar às ruas.
Quando a Defensoria Pública do Rio, que é assistente da acusação, apontou o caráter ostensivamente intimidatório da presença no tribunal de policiais fardados, com distintivos pendurados no pescoço ou vestindo roupas pretas e ocupando boa parte do auditório, o juiz Daniel Werneck Cotta saiu em defesa do coletivo de caveiras:
“Não podemos taxar determinadas pessoas como representantes de um risco a uma audiência em processo público, ainda mais policiais contra os quais não pesa nenhuma acusação. Não podemos admitir que uma imputação a dois policiais civis justifique que qualquer pessoa tenha receio de estar na presença de todos os outros agentes da corporação, ainda que da mesma unidade”.
‘Operação Importunus’
O chefe dos caveiras da PRF, a COE (Comando de Operações Especiais), foi promovido após sua unidade participar, ao lado do Bope, da chacina de maio na Vila Cruzeiro. Após a chacina, Alexandre Carlos de Souza e Silva virou superintendente da PRF no Rio. É ele quem agora deveria responder também pela, digamos, “Operação Importunus”, de intimidação a testemunhas dentro de um tribunal.
Ou será que este foi mais um “caso isolado”?
Não. Encharcada do bolsonarismo, a Polícia Rodoviária Federal se transformou em arroz de chacina.