Javier Milei, vencedor das eleições primárias da Argentina, vem sendo chamado pela mídia corporativa brasileira de “ultraliberal”, “libertário”, “anarcocapitalista”; raramente como extremista; nunca pela classificação política que o senhor costeletas verdadeiramente transpira em suas propostas, discurso e gestual: fascista.
Já Fernando Cerimedo vem sendo apresentado ora como porta-voz, ora como marqueteiro, ora como chefe de campanha de Javier Milei. Um quarto papel na campanha fascista atribuído a Cerimedo, aqui pelo maior jornal da Argentina, o Clarín, é o de encarregado da fiscalização de votos do “mileilismo”.
Para quem ainda não ligou o argentino à pessoa, Fernando Cerimedo é a figura ligada a Eduardo Bolsonaro que apresentou a live “Brazil Was Stolen”, “O Brasil foi roubado”, antologia de mentiras sobre as urnas eletrônicas transmitida no dia 4 de novembro do ano passado, cinco dias após a eleição de Lula.
A live “O Brasil foi roubado” serviu de combustível para os acampamentos golpistas na frente de quartéis – que serviram de combustível para o 8/1 – e foi uma avant-première dos relatórios pós-eleitorais do PL e dos militares que levantaram dúvidas sobre o sistema brasileiro de votação eletrônica.

Não é de hoje nem de ontem que Fernando Cerimedo vem sendo referido como “guru digital” da extrema-direita latinoamericana, tendo servido, além de a Jair Bolsonaro e ao bolsogolpismo, à campanha do rechazo à Constituição progressista do Chile. Uma das prestidigitações de Cerimedo é a manipulação de algoritmos – logo, o debate público – por meio de dezenas de milhares de contas falsas em redes sociais.
Cerimedo é dono da Numen Publicidad, agência de marketing digital e “consultoria política” de Buenos Aires que se diz parceira do Twitter, do Facebook e da Google, além de integrante da Câmara Argentina de Comércio Eletrônico (CACE). Come Ananás procurou a Numen nos diretórios de parceiros das três big techs e na lista de membros da CACE. Nada.
Além da estupidez humana, as fazendas de trolls de Fernando Cerimedo podem informar algo sobre o porquê de os argentinos, 40% deles na pobreza, estarem, ao que parece, conduzindo à Casa Rosada um candidato que promete “um ajuste fiscal mais profundo que o do FMI”, acabar com o salário mínimo e a previdência pública e fechar os ministérios da Saúde e da Educação.