Diz muito sobre o arcabouço fiscal que seu texto base tenha sido aprovado pela mídia corporativa e pela Febraban antes de passar pelo plenário da Câmara;
Que, aprovado na Câmara nesta terça-feira, 23, o dólar tenha aberto em baixa nesta quarta, 24, e que na manhã desta quarta Fernando Haddad tenha defendido o projeto com o argumento de que ele “não agradou setores da extrema-direita”. No que, infere-se, satisfez a direita que aprovou o teto de gastos sete anos atrás – o arcabouço foi aprovado, na prática, por MDB, União, Podemos e PSD;
Que a aprovação do arcabouço tenha sido considerada uma vitória não do governo, mas de Arthur Lira;
Que Haddad tenha dito também na manhã desta quarta que o arcabouço é “um grande esforço de encontrar um ponto de equilíbrio, desagradando algumas pessoas”. Referia-se às críticas ao arcabouço feitas por um terço da bancada do PT na Câmara.
Curiosamente, a mesma fatia da bancada do partido de Jair Bolsonaro, quase um terço, 30 deputados do PL, votaram pela aprovação do arcabouço. Parece que o arcabouço não desagradou tanto assim nem à extrema-direita, como disse Haddad.
Só três partidos não deram votos para a provação do arcabouço: Psol, Rede e Novo – o último por motivo diverso de compromisso com o povo brasileiro. é que o Novo não quer gastos públicos atrelados a metas fiscais. O Novo não quer gastos públicos. Ponto.
No duro, com o arcabouço de Haddad, o país permanecerá sujeito a isso que o Novo não quer, mas querem, exigem as corporações e seus representantes no Congresso Nacional: um mecanismo de engessamento de investimentos do Estado balizado por uma âncora fiscal.
A ansiedade para ver passar logo na Câmara o texto base do arcabouço era tanta que no avançado desta terça dois repórteres da GloboNews anunciaram a aprovação do texto, com direito a contagem de votos, quando o plenário da Câmara tinha acabado de votar, na verdade, o fim da discussão sobre a matéria…
E engana-se, ou melhor, engana o ministro da Fazenda quando diz que o país chegou a um “ponto de equilíbrio”. Nem bem passou na Câmara o texto base do arcabouço e o Estadão já publica nesta quarta editorial intitulado “Placebo fiscal”, dizendo que a “nova regra fiscal já parece insuficiente para estabilizar dívida pública”.
Este é o ponto e o motivo por que a lógica seria um governo de reconstrução tentar romper com a lógica, cumprindo promessa eleitoral: para eles, sempre será insuficiente.