Apertem os cintos. O piloto está onde sempre esteve

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Uma das unidades militares mais tarimbadas em invasões americanas planeta afora vai desembarcar no Brasil a convite e com data marcada, no fim do ano, para participar de um treinamento na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), onde graduaram-se Bolsonaro, Pazuello, Braga Netto et caterva nas artes dos crimes de lesa-pátria e da destruição nacional.

Trata-se da icônica 101ª Divisão Aerotransportada, conhecida como “Águias Gritantes”. Estas aves de rapina participaram da invasão do Vietnã, Iraque, Afeganistão, etc, sempre com papel destacado. O soldado Ryan, do filme de Steven Spielberg, era da 101ª Aerotransportada, num assalto de outra estirpe.

O primeiro ditador da ditadura brasileira, aliás, referia-se à 101ª Divisão Aerotransportada como a “nossa divisão” – dele, Humberto Castello Branco, e do general Aurélio de Lyra Tavares, outro notório membro da ditadura, tendo integrado a junta militar de 1969.

Quando cursaram juntos a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército dos EUA, em 1943, Castello Branco e Lyra Tavares estudaram, digamos que como eletiva, a missão que estava reservada à 101ª no assalto à Normandia, no futuro dia D da II Guerra Mundial.

O tempo passa, o tempo voa, e em 2020 o senador republicano Tom Cotton, “estrela em ascensão” da política dos EUA, sugeriu, na Fox News, o emprego da 101ª Divisão Aerotransportada não mais contra o nazifascismo, mas contra os movimentos antifascismo e antirracismo que enfrentaram – e derrotaram – Donald Trump.

“Se os políticos locais não fizerem seu trabalho mais básico para proteger nossos cidadãos, vamos ver como esses anarquistas respondem quando a 101ª Aerotransportada estiver do outro lado da rua”, disse Tom Cotton na Fox News.

“100% Correct. Thank you Tom!”, tuitou o próprio Trump na época, quando Donald ainda acomodava as nádegas ruivo-adiposas na cadeira mais bacana do Salão Oval da Casa Branca.

A sugestão do senador Cotton e o endosso de Trump à ideia levaram o conhecido ativista americano Ryan O’Connel a fazer a seguinte conjectura, em junho do ano passado, no site Salon:

“Pode-se imaginar um cenário em que Trump se recusa a admitir a derrota. Os manifestantes vão às ruas, e Trump convoca a 101ª Divisão Aerotransportada para ‘restaurar a ordem’… e mantê-lo na Casa Branca”.

Trump não admitiu a derrota, mas também não se entrincheirou no Salão Oval, de modo que a 101ª Divisão Aerotransportada não chegou a sair em socorro do soldado Donald, como tampouco – ora, give me a break – sairá em regaste do soldado Bozo, mais um que avisa de antemão que não aceitará eventual derrota nas urnas.

Tanto Trump, grande fiador de Jair, já não comanda mais o império, quanto o USA já não interfere mais em seu quintal com entradas spielberguianas de marines aerotransportados.

Não obstante, as “Águias Gritantes” vêm aí, para participar em dezembro de um adestramento das Forças de Prontidão (FORPRON) do Exército Brasileiro, num exercício militar denominado Core, sigla naturalmente em inglês para Combined Operations and Rotation Exercises.

O Core, marcado para a Aman dos recrutas Bozo, Pazuello e Braga Netto, acontecerá no âmbito de manobras militares mais amplas dos EUA nos suis do mundo, em conjunto com o Brasil e o Chile. Estas manobras são denominadas também no idioma dos poetas Bush e Rumsfeld: Southern Vanguard.

Um conhecido site especializado na crônica das Forças Armadas Brasileiras noticiou que uma comitiva do US Army esteve recentemente no Brasil para “verificar” as instalações do do Comando de Aviação do Exército (CAvEx), em Taubaté, e “realizar um reconhecimento” da base aérea de Guarulhos. Tudo no âmbito da preparação para o Core/Southern Vanguard.

A visita da comitiva do US Army, preparatória para o adestramento das Forças de Prontidão by USA, durou cinco dias, de 8 a 12 de março. No dia 15 de março, pior momento da pandemia no Brasil, começava no Sul Fluminense, via Aman, um treinamento de decretação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), visando um “conflito interno”.

Culminating

O Core/Southern Vanguard acontecerá na esteira de um significativo incremento dos “laços” entre o Exército Brasileiro e o Exército dos EUA iniciado a partir do golpe de 2016 no Brasil.

Até agora, o maior expoente deste fervedouro foi a Operação Culminating, com a qual, afinal, culminou o Plano Conjunto de Atividades entre os dois exércitos iniciado em 2017, sob o governo Michel Temer.

A Operação Culminating consistiu no envio, no inicio de 2021, de um contingente de militares brasileiros do tamanho de uma companhia inteira, 203 no total, para serem adestrados no Centro Conjunto de Treinamento para a Prontidão (JRTC, na sigla em inglês) do Exército dos EUA, em Fort Polk, Lousiana.

O então ministro da Defesa de Bolsonaro, Fernando Azevedo e Silva, embarcou para os EUA a fim de acompanhar o treinamento. General do Exército de Caxias, Azevedo e Silva viajou fardado.

A maioria do militares brasileiros que participaram do treinamento são da Brigada de Infantaria Paraquedista, cujo símbolo é uma águia com as asas abertas tendo o paraquedas ao fundo.

controvérsia sobre a origem do simbolo. Alguns pesquisadores acusam que ele bebe nelas, as “Águias Gritantes”, que também têm uma águia como distintivo. Outros notam que o símbolo dos paraquedistas brasileiros parece mesmo é com aquele dos paraquedistas nazistas (Fallschirmjäger): uma águia de olhar fixo em alguma presa no solo e segurando com as garras uma suástica nazi.

Quem um dia formou na Brigada de Infantaria Paraquedista do Exército Brasileiro foi o notório simpatizante do nazismo Jair Messias Bolsonaro.

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