“É possível que um código malicioso tenha sido inserido na urna e fique lá latente esperando algum tipo de acionamento”, disse o coronel do Exército Marcelo Nogueira de Sousa em meados de julho, em pleno Senado Federal, levado até lá para dizer o que disse pelo ministro da Defesa, general Paulo Sergio Nogueira.
Uma reportagem de Amanda Rossi publicada nesta quinta-feira, 15, no UOL mostra que o Exército Brasileiro, caçador de malware nas urnas eletrônicas, animado para apurar votos e responsável pelo controle dos acervos de armas de Colecionadores, Atiradores e Caçadores (CACs), simplesmente não sabe dizer, ou diz que não sabe, quantas armas estão hoje em poder dos CACs em cada cidade brasileira.
Escancara-se, das duas, uma: ou é perigosa incompetência ou é grave omissão em momento de fortes contestações à política armamentista do governo Jair Bolsonaro e de revelações, pela imprensa, de armas compras legalmente por CACs indo parar nas mãos do crime organizado.
Em resposta à Controladoria Geral da União (CGU) referente ao pedido de acesso aos números de armas de CACs por cidade, feito pelo UOL com base na Lei de Acesso à Informação, o Exército posicionou-se de maneira inacreditável.
Conta a repórter Amanda Rossi:
“Segundo o Exército, para saber o número de armas de CACs por cidade seria necessário o trabalho de 12 militares durante 180 dias úteis. Isso acarretaria [segundo o Exército] ‘considerável prejuízo no cumprimento de outras atividades, como regulamentação, fiscalização e autorização referentes ao trabalho com Produtos Controlados pelo Exército'”.
O Brasil hoje tem mais de um milhão de armas nas mãos dos CACs, quatro vezes mais do que em 2019. Como exatamente essas armas estão distribuídas pelo território nacional – em quais cidades há mais armas, em quais cidades há menos -, o Exército diz que não sabe e que não pretende saber. Só faltou dizer que tem raiva de quem sabe.
Em “esclarecimento interno” não datado publicado em seu site, porém, o mesmo Exército diz que “possui plena capacidade de acessar as informações e emitir os relatórios necessários ao atendimento das demandas de fiscalização de produtos controlados, ressaltando que o respeito ao sigilo empresarial e à intimidade de seus administrados é fundamental para o cumprimento de suas missões de fiscalização e controle”.
‘Tão capacitado…’
A reportagem do UOL lembra que:
“É comum que bancos de dados sejam compostos de tabelas diferentes. Isso ajuda, inclusive, a otimizar o desempenho do sistema. Nesses casos, dados de diferentes tabelas são combinados apenas quando necessário, a partir de um campo em comum – no caso, o número de referência de cada CAC junto ao Exército”.
Ao UOL, o professor da UERJ Ricardo Ceneviva faz a seguinte ponderação:
“Isso se resolve com facilidade. Acredito que o Exército tenha técnicos competentes para lidar com isso. Se é tão capacitado para opinar sobre as urnas eletrônicas, como não tem capacidade de fazer gestão de um banco de dados?”.