O peronismo kirchnerista, que hoje governa a Argentina com Alberto Fernández, foi duramente derrotado neste domingo, 12, nas eleições Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias – as PASO.
Na Argentina, os pré-candidatos à Câmara e ao Senado precisam se viabilizar numa espécie de “pré-eleição”, conquistando pelo menos 1,5% dos votos em suas respectivas províncias, para concorrerem na eleição à vera. Os pré-candidatos que alcançaram o índice nas PASO deste domingo vão concorrer no próximo 14 de novembro na eleição para renovação de metade da Câmara e um terço do Senado.
Nas Paso deste domingo, os candidatos a deputado da coalização Juntos Pela Mudança, liderada pelo ex-presidente Mauricio Macri, amealharam 40% dos votos, contra 30% da Frente de Todos, de Fernández e Cristina Kirchner. Para o Senado, a diferença foi ainda maior: 44% do Juntos contra 28% da Frente.
A manchete desta segunda-feira, 13, do jornal progressista argentino Página 12 é “Alerta amarilla”.

Referindo-se especialmente a dois pré-candidatos que receberam grande votação, Macri disse que “tudo o que vivemos neste confinamento de meses tão destrutivo foi um atentado àquele princípio fundamental das pessoas, que é a liberdade. Eles expressaram isso e é por isso que tiveram esse apoio. Bem-vindos, porque essas ideias são as que contam”.
A referência foi ao Chicago Boy Ricardo López Murphy, ex-ministro da Economia e ex-candidato a presidente, e a Javier Milei, o “Olavo de Carvalho da Argentina” com quem Eduardo Bolsonaro se reuniu às vésperas do 7 de setembro.
Estridente, tido como “folclórico”, defensor da liberação do porte de armas até para a liberdade de cometer suicídio, Milei sequer faz parte do Juntos Pela Mudança de Macri. Ao contrário: apresenta-se como “antissistema”, “antipolítico”. Ele é o fundador da coalizão Liberdade Avança, que é repleta de negacionistas dos crimes da ditadura argentina e que saiu das PASO deste domingo como a terceira força política em Buenos Aires.
Nas semanas anteriores às PASO, as pesquisas davam a Javier Milei entre 5% e 12% das intenções de voto em Buenos Aires. Com 98% das urnas apuradas, ele tinha 14% de votação. Dono de uma cabeleira sempre desgrenhada, Milei diz que não usa pente, porque quem o penteia é a “mão invisível”.

‘Foi uma surpresa?’
Colunista do Página 12 e fundadora do movimento “Nem uma a menos”, contra a violência de gênero, Marta Dillon classificou Javier Milei como a “direita sem mediações”.
“Foi uma surpresa? Que distância existe entre o discurso de María Eugenia Vidal dizendo ‘eles entraram em nossas famílias’ – em relação ao governo e a gestão da pandemia – e o de Milei proclamando a liberdade mas se posicionando contra o aborto?”, escreveu Marta Dillon, citando a ex-governadora da província de Buenos Aires e pré-candidata à Câmara mais votada na capital.
E Marta Dillon escreveu ainda, sobre Javier Milei, algo mais que aos brasileiros soa muito familiar:
“Aquele cara que andou por todos os meios de comunicação nos últimos anos, que parecia um personagem “descontraído”, não tem mais medo de se mostrar um leão violento e rodeado principalmente por jovens hábeis em divulgar notícias falsas e despertar fantasmas como o comunismo”.
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