Atendendo ao chamado geral do bolsogolpismo, e a intruções mais diretas ainda não se sabe exatamente de quem, George Washington de Oliveira Sousa saiu no interior do Pará rumo a Brasília, de carro, logo após o segundo turno das eleições 2022. Na caçamba de sua Mitsubishi Triton, R$ 170 mil reais em armamentos, desde um fuzil Springfield até duas carabinas, passando por duas pistolas Glock e mais de mil cartuchos de diversos calibres.
George Washington saiu mais especificamente da cidade de Xinguara, no sul paraense, a 800 quilômetros de Belém. Até Brasília, são cerca de 1.300 quilômetros, 18 horas de viagem.
Não se engane com a pequena população xinguarense, de 45 mil habitantes: na região Norte, Xinguara é conhecida como a “capital do boi gordo”. A cidade é ponto nuclear da expansão agropecuária do sul e sudeste do Pará. A FAX, Feira Agropecuária de Xinguara, é evento importante do calendário nacional de eventos agropecuários, movimentando dezenas de milhões de reais.
Não se engane também com o lema que Xinguara ostenta em sua bandeira, “progresso e paz”: antiga localidade de Conceição do Araguaia, Xinguara só virou município em maio de 1982, nascendo sob o signo da intensificação dos conflitos fundiários nos estertores da ditadura, quando o número de mortos no campo durante o gerenciamento de João Baptista de Oliveira Figueiredo, 1.196, foi mais que o dobro do registrado no Brasil ao longo do jugo de Castelo, Costa e Silva, Médici e Geisel.
O antigo nome da antiga localidade, Entroncamento do Xingu, era quase um anúncio de problemas futuros.
Pouquíssimo antes da fundação da cidade, em abril de 1982, um tiroteio na fazenda Santa Maria, na ainda localidade de Xinguara, terminou com um morto e sete feridos, e foi um dos episódios que obrigaram Figueiredo a anunciar a criação do Ministério Extraordinário de Assuntos Fundiários, entregando-o ao general Danilo Venturini, então chefe do Gabinete Militar e presidente do Conselho de Segurança Nacional.

E já que tratamos de terrorismo, consta que o general Figueiredo, morto em 1999, e seu chefe do Gabinete Militar, morto em 2015, souberam com mais de um mês de antecedência que o Destacamento de Operações de Informações (DOI) do 1º Exército, no Rio, preparava um atentado terrorista no Riocentro, em 1981. Figueiredo e Venturini vivem – no bolsogolpismo “evoluído” para o bolsoterrorismo.
Brasil, o ovo
A mídia corporativa atribui ao bolsoterrorista George Washington o ofício de “gerente de posto de gasolina”, do qual teria se desvencilhado para lutar contra o comunismo no Planalto Central, sabe-se lá com que condescendência de um suposto patrão. O jornalista Alceu Castilho, porém, já mostrou que a coisa toda não é tão simples assim.
No tal posto de Xinguara, chamado Cavalo de Aço, fica o restaurante de George Washington de Oliveira Filho, filho do terrorista de Brasília. Uma foto tirada em setembro de 2020 no salão do Cavalo de Aço Empório Goumert, e postada na conta do restaurante no Instagram, é a rigor uma foto do Brasil: gigante, mas um ovo.

Na mesa com quatro homens almoçando no sul do Pará, o único que está de frente usa uma camiseta da edição de 2014 de um evento realizado anualmente pela mui egrégia Sociedade Rural de Maringá (SRM) durante a Expoingá, a feira agropecuária do reduto político de Ricardo Barros e local da vinda ao mundo de Sergio Moro; Maringá, distante 1.200 quilômetros de Brasília, quase tanto quando Xinguara.
Na diretoria do SRM milita Daniel Moleirinho Feio Ribeiro, filho de um amigo de Ricardo Barros e sócio de farmacêutica envolvida em uma das negociatas com vacina anticovid implodidas pela CPI depois que este Come Ananás trouxe a ligação Feio-Barros à luz. No conselho deliberativo da SRM está Francisco Feio Ribeiro, pai de Daniel, amigo de Barros.
Em maio último, durante a 48ª edição da Expoingá, a SRM homenageou o genocida com uma placa em agradecimento ao comprometimento, do genocida, com o latifúndio, desculpe, com o agronegócio.

De volta ao Pará: na foto postada no instagram do Cavalo de Aço Gourmet, o homem que aparece ao fundo, solitário, parece ser o próprio George Washington Filho. É George Washington Filho, agora com certeza, quem escreveu o único comentário na postagem, seja por alguma vaidade, seja por timidez, seja pela réstia de prumo de quem “sabia que ia dar merda” a viagem do pai para a frente do quartel:
“Apaga essa foto”.
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