A vida de um jornalista palestino vale muito pouco. Alguns jornalistas brasileiros não valem nada

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A morte do jornalista libanês Issam Abdallah, da Reuters, explodido por Israel na fronteira com o Líbano, ganhou forte – e devida, e justificada – repercussão internacional. Outros seis jornalistas ficaram feridos: dois da Reuters, dois da AFP, dois da Al Jazeera. Todos os sete estavam devidamente identificados com indumentária balística de imprensa quando o grupo foi alvo de um disparo de um tanque israelense, contra o quê não são páreos capacetes e coletes à prova de balas com a palavra “PRESS”.

Também estavam devidamente identificados – “PRESS” na cabeça, “PRESS” no peito, “PRESS” nas costas – os sete jornalistas palestinos mortos em menos de uma semana pelos bombardeios indiscriminados de Israel à Faixa de Gaza. Nenhum deles era de alguma respeitada agência internacional de notícias e à morte deles não correspondeu forte repercussão na international press, ainda que fosse igualmente devida e justificada.

Na noite desta sexta-feira, 13, dia em que pelo menos 250 palestinos foram mortos na Faixa de Gaza e não foi porque passaram por baixo de escadas em dia de mau agouro, certo correspondente eterno da Rede Globo em Nova Iorque disse na Globo News que repercutir imagens de civis trucidados em Gaza pelas bombas de Israel, como as que vinham sendo registradas pelos jornalistas palestinos mortos, “é fazer propaganda do Hamas”.

Segundo o sempre pontual defensor dos EUA e dos amigos dos EUA, quem comete crimes de guerra na Faixa de Gaza não é Israel, mas sim o Hamas, porque, sempre segundo o medalhão midiático – e sempre contra os fatos amplamente noticiados -, Israel só bombardeia alvos militares do Hamas e se é pra divulgar fotos de civis mortos em Gaza tem que avisar que o Hamas usa civis como escudos humanos.

Eram escudos humanos os pelo menos sete jornalistas palestinos mortos por bombas de Israel desde o sábado passado? Eram escudos humanos os 12 funcionários da ONU mortos até agora em ataques de Israel? Eram alvos militares as áreas residenciais e os hospitais e berçários de Gaza atingidos pelas bombas de “Bibi” Netanyahu? São escudos humanos as dezenas de brasileiros que, em desespero, tentam fugir da Faixa de Gaza, tentando escapar da morte?

Foi realmente um terror a noite desta sexta-feira 13 na Globo News: no mesmo programa, o defensor de que as atrocidades na Faixa de Gaza não sejam noticiadas fez dobradinha com certo sociólogo e “jornalista” para justificar a “resposta devastadora” de Israel, para dizer que os esforços do governo brasileiro por um cessar-fogo em Gaza não passam de “alinhamento com a Rússia, que resolveu apoiar o Hamas”, e para classificar a solidariedade internacional com o sofrimento do povo palestino como “antissemitismo” da esquerda.

A vida de um palestino, de um jornalista palestino, parece que vale muito pouco. Alguns jornalistas brasileiros realmente não valem nada.

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Comentários

Uma resposta

  1. Avatar de Rita Machado

    No Jornal Hoje deste sábado 14, o Trali afirmou que o jornalista foi morto na troca de bombardeios. Devia estar bem no meio, quando bombas dos dois lados se encontraram. Todo malabarismo verbal pra defender o terrorismo de Israel.

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