A narradora do conto “Os anos intoxicados”, da escritora argentina Mariana Enriquez, deu-se conta de que Andrea tinha ido para a cama com o namorado no último ano do colégio.
Preocupada, ela e outras amigas alertaram Andrea sobre o que tinha acontecido com Celina, uma outra menina da escola, um pouco mais velha, que tinha morrido “sangrando na rua enquanto tentava chegar ao hospital”.
“Os abortos eram ilegais, e as mulheres que os faziam jogavam em seguida as garotas na rua; no consultório havia cães, dizia-se que os animais comiam os fetos para não deixar rastros. Ela nos encarou irritada e disse que não tinha medo de morrer. Nós a deixamos chorando na praça”, conta a narradora.
O conto “Os anos intoxicados” está no livro “As coisas que perdemos no fogo”. O aborto clandestino e inseguro está entre uma das principais causas de mortalidade materna no Brasil, castigando especialmente mulheres pobres, negras e indígenas.
Em corrida contra o tempo antes de se aposentar, a presidente do STF, ministra Rosa Weber, pôs na pauta do Supremo a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação, e deu seu voto a favor.
No entanto, um pedido de destaque do ministro Luis Roberto Barroso travou o julgamento no plenário virtual e vai levá-lo ao plenário físico do Supremo, ainda não se sabe quando. Barroso assume a presidência do STF na próxima quinta-feira, 28, e, segundo a imprensa, “quer medir o clima no tribunal e a temperatura política do país” antes de retomar o julgamento.
No Congresso, forma-se uma Santa Aliança de neopentecostais, CACs e donos de bois para conjurar o espectro da descriminalização do aborto.
No Congresso, neopentecostais, CACs e donos de bois uivaram de alegria com o julgamento do aborto legal jogado para o plenário físico do STF, coliseu de pressões para que morram em nome de Jesus as mulheres brasileiras sem condições de interromper com segurança a gravidez indesejada.
No consultório clandestino e no Congresso havia cães.
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